Henrique Raposo é um jovem, e muito vivo, colunista do Expresso, que todas as semanas opina na coluna da direita da página 37 do semanário.
Na edição de 21 de Janeiro, atenta, com grande lucidez, na “direita gay” e na “esquerda snob” que, diz, não gostam de Cavaco Silva. A primeira não gosta porque só lhe interessam os assuntos gay, e a segunda não gosta porque não perdoa que alguém possa ser Presidente tendo nascido em Boliqueime.
O pensamento é elaborado e ajuda-nos a meditar nestas magnas questões, embora eu, assim de repente, não me lembrar de ninguém que em Portugal não gostasse de Ramalho Eanes por ele ter sido eleito Presidente sendo natural de Alcains.
A última parte da coluna, dedica-a ao filme “A Vida dos Outros” (filme alemão de 2006, vencedor do Óscar para melhor filme estrangeiro em 2007), num bota-abaixo de fino recorte. Termina dizendo: «“Portanto, esqueçam o “Toy Story”: “A Vida dos Outros” é filme ideal para as criancinhas.”»
Acontece que este belo filme não pode, de facto, agradar a quem tem um olho vivo e outro cínico, com os quais só consegue fazer análises ideologicamente pré-formatadas.
Viver em ditadura, coisa que o colunista nunca provou, exige um grande jogo de cintura; que o diga o nosso Presidente reeleito, que, no período do Estado Novo, ao preencher uma qualquer declaração que lhe era exigida para trabalhar para o Estado, achou prudente acrescentar que não se dava com a mulher do sogro, coisa que nunca lhe foi perguntada.
Na Alemanha de Leste, em Portugal e em tantos outros locais do mundo por onde as ditaduras (de todos os tipos) deixaram um rasto de morte, medo e sombra, muitos foram colaboracionistas por convicção, outros por mera questão de sobrevivência.
As pessoas não podem mudar? Claro que podem, e um agente da Stasi também pode mudar, ainda mais quando é já tão evidente que o regime falhou.
Se não acreditarmos nisso, como vamos classificar um Frederik de Klerk e a sua mudança na África do Sul ou, em termos mais caseiros, Adriano Moreira, para só citar dois duma lista interminável?
Para além do mais, Henrique Raposo não conseguiu perceber que o filme é também sobre as contradições do ser humano, a solidão e a omnipresente vigilância sobre todos nós (mesmo nos regimes democráticos).
Um conselho, com amizade, ao Henrique Raposo: continue a ver “Toy Story”.
:-) Adorei! É este o tom, é este o caminho! (parece-me).
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