Hoje tinha
decidido escrever sobre dois artistas visuais − Manuel João Vieira e Marina Abramovic.
Esta
estranha combinação nasceu duma notícia do Expresso, segundo a qual o artista Manuel João Vieira vai criar uma
réplica da sua casa na Cordoaria Nacional para lá morar durante uns dias, e diante
do público.
Pensei que,
com franqueza, não me apetece nada ir ver o MJV a ler o jornal, tocar guitarra,
cortar as unhas, pintar uma tela, ou a fritar uns douradinhos para o almoço.
Como os
pensamentos são como as cerejas, ou pior, lembrei-me de como, pelo contrário, gostaria
de ter ido ao MoMa de Nova Iorque em 2010 a quando da performance The Artist is Present de Marina
Abramovic.
Há 40 anos
que Marina testa os limites do seu corpo, desafia o perigo, não distingue vida
e arte, e com isso perturba, gera em mim atracção e repulsa, medo e plenitude,
prazer e choque.
Na referida
performance, Marina sentava-se sete horas por dia no hall do museu e os
visitantes iam-se sentando diante dela, em silêncio, podendo ficar o tempo que
quisessem, mesmo que as filas lá fora fossem monumentais. Aconteceu de tudo um
pouco com o público mas, no meu imaginário, se eu me sentasse ali diante dela, faria
com o meu espírito o que fazemos com o corpo quando usamos tampões de silicone
nos ouvidos – começamos a ouvir todos os ruídos do interior do nosso corpo; olhando
Marina em silêncio, começaria a ouvir o mais ínfimo gemido da minha alma, e
isso podia se arrasador, mas eu queria, oh se queria!
Voltando às
coincidências do início da conversa, vale a pena lembrar que, se a performance
foi muito falada em 2010, daí para cá parecia-me ter caído no esquecimento.
Contudo, mesmo antes de começar a escrever este texto, encontrei no Facebook um
post sobre um magnífico momento da The Artist is Present acompanhado dum
pequeno filme que o ilustra; em poucas horas ficou viral. Espantoso.
Transcrevo o
texto que alguém escreveu no Facebook, ressalvando que não era um minuto para cada pessoa, mas o tempo que cada
visitante aguentasse, e deixo também o filme de 4 minutos que, a esta hora, já toda a gente viu.
E sim, há
coincidências do caraças.
Retirado do
Facebook
"Nos
anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante
5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram
que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da
China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar
um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver. 23 anos depois, em
2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque
dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava
um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou
sem que ela soubesse... e foi assim."
Vi há umas horas.
ResponderEliminarAbsolutamente comovente. Adorei.
Rute
São estas coisas que vão salvando os nossos dias, não é?
Eliminaré.
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