Vou pôr-me a caminho da minha assembleia de voto.
Vou
expectante, mortinha por saber, finalmente, o que resolvem os portugueses
depois destes quatro anos em que foram tratados abaixo de cão.
Pessoalmente,
e em termos políticos, vivi quatro anos e meio de indignação, às vezes repulsa,
às vezes medo, muito azedume, e náusea persistente.
No domingo,
será encerrado este ciclo; ou não, porque, usando uma boa lapalissada, direi
que ou o governo ganha, ou o governo perde.
Ingénua,
talvez, ainda acredito que, ao contrário do que as sondagens nos querem fazer
crer, os portugueses talvez não tenham gostado assim tanto de ser sodomizados à
bruta.
Por isso,
ponho as minhas fichas na derrota da coligação. PaFfffffffff!
A ser assim,
e se o PS ganhar, espero que não tenha maioria absoluta, e que seja obrigado a
negociar. Depois de Sócrates, passei a achar que a maioria absoluta é um mal absoluto.
Porém, no caso
de o absurdo se concretizar, isto é, caso a coligação vença, por convicção ou
falta de comparência dos cidadãos, a minha decisão está tomada: vou virar-me do
avesso.
Não terei
mais angústias com o desmantelar da escola pública, do Serviço Nacional de
Saúde, da Segurança Social e dos apoios aos mais pobres. Não me preocuparei
mais com a Justiça e as suas descaradas injustiças, os negócios e as negociatas,
a emigração, a precariedade, as desigualdades, a mão-de-obra barata, as
senhoras e senhores da assistência.
Pedro, Paulo,
seus mentores e seguidores, aproveitarão para concluir a enorme transformação
do país que já encetaram, e a mim nada me resta se não admitir que, às vezes, é
preciso deixar que se “albarde o burro à vontade do dono”.
Se o voto
dos portugueses apontar claramente para uma preferência pelos colégios
privados, os seguros de saúde, os fundos de pensões privados, os pobrezinhos
mas honestos, a caridade, o assistencialismo, as remessas de francos suíços e o
tratamento ao pontapé, eu terei votado vencida.
Mas não há
drama.
Fiz um muito
pessoal ponto da situação e constatei que: eu já estou mais para lá do que para
cá, os meus filhos já se foram embora, netos não tenho (mas se os vier a ter,
talvez sejam noruegueses, ou suíços, ou japoneses, sei lá). Então, por que raio
deveria continuar a sofrer, querendo preservar para o futuro o que a maioria de
nós quer deitar pela borda fora?
Nááá, não o
farei.
Quererá isto
dizer que passei de resistente a desistente? Não será bonito, mas é bem
possível, admito.
Se o PS
ganhar, como espero e desejo, fico contente por uma noite, e depois recomeça a
porrada, porque sei que o fundamental não mudará. Mas, ao menos, mudam as
moscas, e chegámos tão fundo que com isso já me alegro.
Não votarei
útil. Porque não quero, mas, diga-se em abono da verdade, e feitas as contas,
também não é preciso.
E fico mesmo
piursa quando me dizem que, sendo de esquerda, se não votar PS estou a
desperdiçar o voto. (Que me lembre, o autor desta “descoberta”, Manuel Alegre,
não considerou um desperdício os votos da esquerda nele próprio quando se
candidatou e perdeu).
Para a pata
que os pôs mais a democracia deles.
O meu voto
não é uma “utilidade”. É um direito e um dever, qualquer coisa mais do domínio
do imaterial. Viver de “utilidades” é uma grande chatice. E cansa.
Cansada
também, confesso, estou das guerras entre bolchebiques, mencheviques, do
renegado Kautsky, do renegado Trotsky, e do mais que já esqueci.
No domingo, votarei
no programa e nas pessoas em que me apetece votar, mas não vou revelar quais
são por três razões fundamentais:
- apesar de,
nas redes sociais, ser tudo às escâncaras, este atávico secretismo sobre o voto
dá-me frisson.
- o sentido
do meu voto não interessa nem ao Menino Jesus.
- não tenho
seguidores e não espero convencer ninguém, e também não vou matar a curiosidade
aos curiosos.
No meio de
tanta incerteza no domingo, votarei, como sempre, com uma enorme alegria e um desmedido
sentimento de gratidão − pelos Capitães de Abril, pois claro.
Durou, de
modo desigual, desde antes da queda de Sócrates, até às novas eleições quatro
anos e meio depois − os anos de chumbo.
Não o vou
encerrar porque me parece de todo desnecessário − uma vez na internet, sempre
na internet, dizem.
A quem por
aqui me visitou, o meu obrigada. Aos outros bloggers que, por causa deste, conheci,
reitero que foi um prazer.
Para todos, bom
domingo, boas escolhas, dias felizes e até à vista.
Vou andando.
Subscrevo, totalmente - talvez desistente, também, talvez derrotado... Só tenho pena que abandones a blogosfera. Foi (é) um prazer ter-te conhecido - ainda que não pessoalmente. Um forte abraço.
ResponderEliminarGrande abraço, André. E não esqueço a maneira como te "conheci". No meio da histeria, foste magnífico.Tudo de bom para ti.
EliminarCompreendi tudo...menos o fim do blogue! É das únicas coisas que não nos obriga a nada, escrevemos quando nos apetece e se não tivermos expectativas muito elevadas, é só um espaço de encontro com potenciais outros e às vezes connosco próprios...não vá andando, fique por aqui.
ResponderEliminar~CC~
CC, só tão bom "conhecer" uma MULHER assim...
EliminarFico por aqui como leitora, mas quando as coisas deixam de nos apetecer, já não vale a pena. Um beijo.
Lá por termos inscrita na praxis de quem nos governa a lógica terceiromundista do desperdício como sinónimo de desenvolvimento, não significa que devamos perfilhá-la, prescindindo de dar bom uso ao descernimento e à lucidez. Espero não te perder.
ResponderEliminarCara Maria de Jesus Lourinho.
ResponderEliminarFoi por aqui que nos conhecemos (virtualmente). Mantive-me até ao fim num blogue colectivo mesmo quando deixou de o ser. Reactivei o meu e até ser atingido até ao tutano havia sempre algo para dizer, até que a desmotivação me tirava a fraca capacidade de intervir. Lutei contra essa tendência embora o não conseguisse. Mas ainda não desisti, sinto que tenho algo para dizer e sinto que é preciso fazê-lo.
Mas compreendo e naturalmente aceito, mas tenho a suspeita que não vai conseguir.
Abraço
Rodrigo Henriques
Fala a experiência, não é Rodrigo?! Veremos.
EliminarUm forte abraço para um homem que não desiste.
Obrigado Mãe!
ResponderEliminarObrigada, filho ♥
Eliminarnão entendi o salto para a decisão de fechar o blog. mas longe de mim exprimir qualquer lamento ou desacordo, por me faltar toda a autoridade: quando terminei com o meu, fi-lo por já não fazer sentido, para mim.
ResponderEliminarno seu caso, pelo que percebi, é porque já não lhe estava a dar prazer.
são situações diferentes mas, na essência, o gesto é o mesmo.
grande abraço. foi muito bom tê-la conhecido por aqui.
Foi isso mesmo. Já não me apetecia. Aliás, todo o último ano, já teve pouca actividade. Foi bom. Foi tudo bom. Um abraço e obrigada.
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