Ontem,
Manoel de Oliveira completou 105 anos de vida.
Diz ele que,
como prenda de anos, queria financiamento para um novo filme orçado em 350000
euros.
Assumindo-me
muito politicamente incorreta, acho que Manoel de Oliveira não terá o dinheiro,
até porque não o há mas, se houvesse, defendo que também não o devia ter.
Cento e
cinco anos são cento e cinco anos são cento e cinco anos.
Não vamos
ser hipócritas, vamos antes assumir que com tão provecta idade ninguém está em pleno
gozo das suas capacidades; ao contrário, está num processo evidente e acelerado
de declínio e perda.
A sua vida
de trabalho cumpriu-se, e cumpriu-se bem.
O reconhecimento
internacional que teve está a ter continuidade em vários jovens cineastas
portugueses, e são eles que agora precisam dos apoios de que Oliveira já
bastamente usufruiu.
No fim de
contas, talvez ninguém os venha a ter, nem velhos nem novos, por as suas
consciências não lhes permitirem aceitar o novo regulamento de apoio ao cinema
que, nas palavras de António Pinto Ribeiro no Ípsilon de 6 de Dezembro nos
coloca à beira “de um racismo cultural
onde tudo o que não for “bom português” – na representação nacionalista dos
autores e dos governantes responsáveis por esta norma – não pode ser apoiado.
Porquê? Por não ser reconhecido como cinema português”.
Este
regulamento, segundo o mesmo autor, e no mesmo artigo de opinião, excluiria
muitos dos filmes do próprio Manuel de Oliveira.
O título do
artigo a que me refiro é “Normas para filmar, vigiar e punir”, e do que li
pareceu-me que o que se perfila no horizonte é, tão-só, tenebroso.
No cinema,
como em tudo o resto, afinal.Se Manoel de Oliveira diz "Eu penso que no país há uma grande indiferença pelo que já realizei. Tanto faz que o meu cinema exista ou não exista", que terá pensado Nadir ao longo da sua vida de trabalho?
Sem dúvida. Plenamente de acordo.
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