“Humm”, disse Markel. “O velho demónio disse mesmo isso?”
“Disse.”
“A sério que disse “pensante”? Isso é absolutamente delicioso! Seja como for, ele era um romântico incurável”
Depois,
Markel acrescentou:
“Meu caro
Arvid, tu escreves sobre música, e sobre o que te der na veneta. De que te
queixas? Eu tenho de lidar com todo o lixo e iniquidade e não me queixo. Faço o
que posso e tento impedir que saiam disparates e cretinices, mas quando vejo
que não há nada a fazer deixo passar…Tu nunca és obrigado a escrever nada que
não queiras, e eu também não. Contudo, como editor adjunto, e às vezes como diretor
de edição, sou obrigado a deixar passar, muito contra vontade, “falsas notícias
que confundem o público”. Tu não tens de fazer isso. Tu escreves simplesmente
sobre música, ou o que quer que seja, e depois vais buscar o ordenado.
Portanto, de que te queixas?”
“Também não
me estava a queixar” disse Arvid. “Só que não consigo deixar de pensar, sempre
que recebo o salário, que sem essas “falsas notícias que confundem o público”
não haveria dinheiro para me pagarem”
“Oh, meu
cordeirinho inocente”, disse Markel. “Tu não és só um moralista. És um
supermoralista. “Falsas notícias”. Santo Deus, as falsas notícias são
inevitáveis. Uma vez mais, temos pela frente a pergunta de Pilatos: “O que é a
verdade?”
Hjalmar Söderberg (1869-1941)
Ed. Relógio D’Água
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