Chegada a
casa depois de um tão simples quanto excelente almoço em excelente companhia e em
paisagem privilegiada, ligo o computador e tomo conhecimento de que António
Borges morreu.
Nada de
particular tinha a dizer na sua morte.
Era antes de
mais, e sobretudo naquela hora, um homem como qualquer outro, isto é, marido,
pai, avô e talvez ainda filho de alguém que, inevitavelmente estava sofrendo
uma perda.
Para além
disso, era um homem que, sobre sociedade e política pensava o oposto do que eu
penso, dizia-o, e desse conjunto de pensamentos e palavras nascia uma figura
que me era muito antipática.
Contudo, o
poder de que alguma vez dispôs para nos fazer mal não lhe caiu do céu, nem foi usurpado,
antes lhe foi outorgado por aqueles a quem nós próprios confiámos o poder.
A dita
náusea, porém, nasceu e cresceu à medida que fui lendo o que se publicava nas
redes sociais.
Cheguei a
ler agradecimentos ao cancro, vi evocar o castigo divino, e vi também desferir
violentos ataques sobre quem, não lamentando a morte do homem, ousou, porém,
insurgir-se contra tanta intolerância e ódio.
Como é feio
de ver este meu povo de esquerda que, impotente para sacudir as cangas que
periodicamente lhe põem ao pescoço, se acoita no ódio e se alivia chafurdando num sórdido e generalizado rancor.
Um homem e
um político que defende o que António Borges defendeu é, para mim, um homem
desprezível, sem sombra de dúvida.
Mas, e daí?
Temos mesmo de ser iguais a ele?
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