quarta-feira, junho 19, 2013

As meninas de Odivelas

Nos meus tempos de menina e moça vivia-se por aqui, como é sabido, uma ditadura e uma guerra colonial.

Sobre “a família militar”, os do “contra” construíam uma caricatura a traço muito grosso, ou uma narrativa, se se preferir, em que, enquanto o pai oficial cumpria comissões de serviço nas colónias (eles diziam ultramar), a mãe integrava o Movimento Nacional Feminino, a filha frequentava o Instituto de Odivelas e o filho engravidava a criada.

O Instituto de Odivelas é uma vetusta instituição nacional – escola feminina para filhas das tropas, criada em 1900.
Às alunas, mais conhecidas por meninas de Odivelas, ensinava-se a fechar as pernas, isto é, a sentarem-se com decoro, bem como variadas artes do lar, conversa de sala, e ainda as matérias do curso dos liceus.

Mais tarde, era frequente as meninas acasalarem com o Colégio Militar.

Algumas meninas de Odivelas, chegadas cá fora, parecia que nem tinham ido à escola, ou que tinham tido amnésia, o que deu origem, naquele tempo, a pelo menos uma cançoneta muito, muito brejeira.
Coisas da luta de classes.

Este instituto, que de progressista nada tinha, sobreviveu ao 25 de Abril, ao PREC, ao apagamento do papel dos militares na sociedade portuguesa, em suma, sobreviveu a tudo, menos ao governo mais direitista que tivemos em democracia.

Vai morrer às mãos de Passos, Aguiar Branco e Crato.
Quem diria?


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