Os
funcionários nunca estão a tirar os móveis do carro para a casa. É sempre precisamente
no sentido inverso que trabalham – da casa para o carro.
Parece que sempre
alguém está de partida.
As plantas,
nos seus vasos, trazidas aos solavancos pela mão forte e desprovida de afectos
dum funcionário, perdendo terra e tremelicando a sua fragilidade, quase sempre
encontram lugar entre um sofá deitado e um colchão de pé. E eu sempre temo por elas.
Porém, o que
mais me aflige é que nunca reconheço o dono dos móveis, alguém que se preocupe
e cuide da comodidade e arrumação das suas coisas, alguém que se inquiete com a
posição do sofá ou com o lugar que destinaram ao colchão, alguém que salve as plantas, alguém que tenha com aqueles
objectos uma clara relação de cumplicidade e posse.
E é precisamente
nessa ausência que eles, os objectos, perdem toda uma dignidade que lhes advinha
de terem enquadrado uma vida, de terem sido pertença, quando não amor, de
alguém.
Dentro duma camioneta
de mudanças, como fora dela, pode sentir-se o abandono e a vulnerabilidade
próprios dum fim de linha, ou de época, ou de vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário