terça-feira, abril 02, 2013

O mundo ao contrário


Faz hoje 30 anos, no Hospital de Évora, nasceram várias crianças. Não sei quantas foram, mas sei que começaram a nascer cedinho e continuaram pelo dia fora.

Uma dessas crianças era minha.

Estivemos lá cinco dias, como era prática nesse tempo, e, apesar de ser Páscoa, não nos faltou nada; nem médicos, nem cuidados de enfermagem, nem fraldas, nem medicamentos, nem vacinas, nem o teste do pezinho. À saída, também não pagámos nem um tostão.

Daí para a frente, o SNS sempre nos acolheu quando precisámos, a escola e universidade públicas também ensinaram a criança feita menino, depois adolescente e, finalmente, homem.

Há trinta anos éramos um país pobre e atrasado, o 25 de Abril estava a fazer apenas nove anos, o FMI andava por cá tal como agora anda a troika, mas as crianças continuavam a nascer.

E o Estado nunca deixou de cumprir as suas obrigações.

Saímos dessa crise e de outras; por várias vezes prosperámos.

A crise que agora vivemos, apesar de violenta, encontrou à chegada um país inegavelmente diferente do de 1983; um país que entretanto evoluiu, se modernizou e ficou, literalmente, mais rico.

Porém, é agora que nos vêm dizer que não há dinheiro para o SNS ou que é preciso pagar e degradar a escola pública.

E é também agora que as crianças não nascem.
É o fim da linha e dá vertigens − é o mundo ao contrário.


5 comentários:

  1. Antes de mais, querida amiga, os meus parabéns...ao seu doce rebento e a si também (e ao pai, naturalmente!:)).
    Se há dia que não se esquece é o do nascimento de um filho (tem a sorte de poder comemorar dois:)), não é?
    Contrariamente a si, os meus 5 dias no hospital nem sempre foram doces (5 dias, apesar de parto natural).
    As equipas que me atenderam nas 17 horas de trabalho de parto eram extraordinárias. Já as do pós-parto, tive de tudo. No entanto, se voltasse atrás, era ao público que me dirigiria, pondo de lado o seguro, como fiz na altura.
    É uma pena que este governo acabe com tudo!
    Ainda há pouco, quando me dirigi à loja do cidadão para lá deixar um pouco mais de 200€ de recibos de terapias do Gui, encontrei o balcão encerrado.
    Foi-me dito que encerraria definitivamente, não sabendo as funcionárias qual o seu destino. Para já, ainda pude deixar os recibos num outro balcão, mas interrogo-me até quando haverá adse, até quando haverá SNS, até quando nos restará, apenas, o privado.
    Quanto à educação, nem consigo comentar.:(

    Fui comprar umas peças para aplicar um baloiço na porta do quarto do Diogo e sabe que o dono da drogaria me disse que vivia melhor antes do 25 de abril? Que todos os governos destruíram o país(?).
    Nem lhe respondi! Percebi, claramente que pertencia aos velhos negociantes que pagavam os empregados a duas coroas...:(

    bji gde, querida amiga, e muitos sorrisos, afinal, apesar de tudo, hoje é dia de festa!:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tantas dúvidas e perplexidades que nos atormentam os dias. Mas sim, Nina, hoje, se não é dia de festa, é dia de celebrar. Beijinho e obrigada.

      Eliminar