Ontem, o “caso” no ciberespaço, logo a seguir ao documento-catana
do FMI, foi o vídeo de promoção Samsung com a blogger de moda Filipa Xavier (houve outras).
A jovem deseja, para 2013, poder comprar “com o seu dinheiro”
uma carteira clássica e preta da Chanel, e di-lo, entre outras coisas igualmente
de grande interesse, com todo um linguajar de tia de Cascais.
O que se passou nas redes sociais (eu própria partilhei o
vídeo) não é mais do que a prova de que
em Portugal a luta de classes e a dicotomia direita/esquerda, existem e estão,
até, com demasiada saúde.
Por enquanto apenas se manifestam virtualmente, mas não
restam dúvidas de que existem, e podem passar ao plano do real assim que o
momento se afigurar propício.
Meio-termo e conciliação são, hoje, sonhos; as posições
extremaram-se e já não há nenhuma tolerância para com uma menina apalermada que
deseja uma carteira Chanel para 2013, quando dezenas de milhares de portugueses
só desejam que não lhes falte a sopa, ou que possam comprar uma aspirina.
Não há tolerância para quem vive fora da dura realidade.
Quanto mais desiguais as sociedades, mais intolerantes, é
sabido.
“A coisa aqui está preta”, e vai ficar pior.
O pior, no meu entender, é a falta de vergonha em assumir esse desejo publicamente, numa campanha. Já tê-lo é como se diz "é para quem pode (e quer)".
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