quinta-feira, novembro 15, 2012

Sem ofensa

“A tradição bíblica ensina-nos que a felicidade do primeiro homem antes da queda consistia na ausência de trabalho, isto é, na ociosidade. O gosto da ociosidade manteve-se no homem réprobo, mas a maldição divina continua a pesar sobre ele, não só por ser obrigado a ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto, mas também porque a sua natureza moral o impede de encontrar satisfação na inactividade. Uma voz secreta diz ao homem que ele é culpado de se abandonar à preguiça.

E, no entanto, se o homem pudesse achar um estado em que se sentisse útil e em que tivesse o sentimento de que cumpria um dever, embora inactivo, nesse estado viria a encontrar uma das condições da sua felicidade primitiva. Esta condição de ociosidade imposta e não censurável é aquela em que vive toda uma classe social, a dos militares. Em tal ociosidade está e estará o principal atractivo do serviço militar.”
Leão Tolstoi, “Guerra e Paz”
Publicações Europa-América

Sem ofensa para os militares que no sábado passado saíram à rua, e sem ofensa também para os que o são por gosto, e mesmo sabendo que quando a Merkel cá vier temos sempre que a proteger por terra, mar e ar, não consigo evitar a pergunta:

Por que temos de continuar a ter, já depois de todos os cortes, umas Forças Armadas de 18.308 almas, em que se incluem 67 oficiais-generais no Exército, 20 na Marinha e 19 na Força Aérea?
Vão-me dizer que é para defender a soberania?
Ou será que vêm aí os espanhóis?

 

6 comentários:

  1. Para inglês ver, querida Maria!

    De mal a pior!
    bji

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  2. Neste momento entende-se..mais que a Merkel é mesmo proteger governantes eleitos democraticamente. Uma impossibilidade técnica à uns tempos atrás...está mesmo a mudar a Europa.

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  3. Tem razão, cs, mas, mesmo assim, tantos? E tantos generais? Eu gosto muto do que escreveu Tolstoi.

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  4. Uma das razões pela qual a Alemanha está no atual desafogo económico, foi a quase ausência de gastos com o exército durante seis décadas por imposição do tratado imposto pelos vencedores, pós 2ª guerra.
    Esteve na confortável situação a que se refere Tolstoi, de não ter, nem ter de se questionar se devia ter!
    Somem-se os gastos militares de Portugal nesse período e avalie-se quanto seria a nossa atual folga financeira. O que nos teria acontecido neste entretanto? Deixado as colónias um pouco mais cedo, com menos custos económicos, sociais e morais e provavelmente nada mais!

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