O Estado-providência, em suma, nasceu dum consenso transpartidário do século xx. Foi implementado, na maioria dos casos, por liberais ou conservadores que haviam entrado na vida pública muito antes de 1914, e para quem o fornecimento público de serviços médicos universais, pensões de velhice, subsídios de desemprego e doença, educação gratuita, transportes públicos subsidiados, e outros pré-requisitos de uma ordem civil estável, representavam não o primeiro estádio do socialismo do século xx mas o culminar do liberalismo reformista do fim do século xx.
…os Estados-providência “socialistas” do século xx construíram-se não como uma guarda avançada da revolução igualitária, mas para proporcionar uma barreira contra o regresso do passado: contra a depressão económica e o seu resultado político polarizador na política desesperada, tanto do fascismo como do comunismo. Os Estados-providência eram portanto Estados profilácticos. Foram concebidos de forma muito consciente para responder ao anseio generalizado de segurança e estabilidade…
Graças a meio século de prosperidade e segurança, no Ocidente esquecemos os traumas políticos e sociais da insegurança em massa. E assim nos esquecemos do porquê de herdarmos esses Estados-providência, e o que os justificou.
Retirado de:
O Século XX Esquecido
Lugares e Memórias
Tony Judt, Tradução de Marcelo Felix, Edições 70, LDA., 2010
Está na hora de recordar ou aprender, digo eu, agora que tudo aponta para um regresso ao passado. O Estado-providência não foi uma boa invenção de políticos dados à caridade e que os estados hoje já não podem suportar; foi terapêutica profiláctica contra males, para nós inimagináveis, mas que nos espreitam de novo.
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