O desaire eleitoral do Bloco, para quem está de fora, era esperado. Nos últimos tempos de Sócrates, as linhas orientadoras do Bloco foram erráticas, inconsistentes, quando não arrogantes.
Quando nasceu, o Bloco foi uma esperança para todo um eleitorado de esquerda, na sua maioria educado e urbano, que já não se revia nos tradicionais partidos de esquerda. E conseguiu ser uma esperança transversal a várias gerações.Era também alguma coisa em construção (como a Europa), nascido da vontade de entendimento entre vários pequenos partidos de esquerda, até aí sempre de candeias às avessas uns com os outros. Era, enfim, uma esperança, ainda que de contornos pouco definidos, para todo um povo de esquerda que se sentia órfão.
Esta “criança”, foi crescendo e engordando, sempre acarinhada, até se tornar num adolescente que, subitamente, se confronta com a dura realidade da vida – ela não é fácil.
É então que os genes de todas as famílias dão prova de vida, todos ao mesmo tempo, e temos um adolescente perturbado, com borbulhas e dentes tortos, que tende a fechar-se na cave, culpando o resto do mundo e curtindo apenas, e só, a sua própria música.
Pode, sem dúvida, estar a viver apenas uma crise de crescimento que será ultrapassada, mas pode também perder-se na sua caminhada para a vida adulta.
Os mais recentes sinais não são animadores. Daniel Oliveira e Rui Tavares são duas excelentes cabeças que, nos seus blogues e jornais em que colaboram, têm procurado pensar o passado, e sobretudo o futuro do seu partido, em público e sem tabus. O que eles escrevem é política pura e séria.
À extrema correcção com que o têm feito, alguns dirigentes do partido começam a responder ao velho estilo da esquerda estalinista, o que não augura nada de bom.
O tal povo de esquerda órfão, educado e urbano, fartou-se exactamente disso dentro do PCP e de outros.
A grande discussão interna estará marcada para Setembro mas, a continuar assim por tão “maus caminhos”, este adolescente problemático pode nem chegar à idade de votar.
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