sexta-feira, abril 01, 2011

A notícia que não o devia ser

Li no ionline de ontem uma notícia com o título – “Funcionários do ICNB (Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade) obrigados a sair antes das 19h00”
Continuando a leitura é explicado que esta medida foi tomada para poupar energia.
E eu pergunto: qual é o mal? E não têm vida para viver depois das 19h00?
Seguindo a leitura, “Horas extraordinárias só com aprovação superior.”
Qual é o mal? Trabalhar até às 19h00 não dá para fazer o trabalho? Porquê?
Continuando,” depois das 19h00, os seguranças têm de fazer todos os dias uma ronda pelo edifício, para "fechar todas as luzes, aparelhos de ar condicionado ou aquecedores"
“...exige ainda aos funcionários que, antes de se ausentarem do edifício, verifiquem se desligaram as luzes da sala que ocupam, bem como os computadores.
Os funcionários vão deixar de ter ligações telefónicas directas e só os "dirigentes a exercer funções na sede e respectivo secretariado" terão direito a telefone e somente para chamadas fixas nacionais. Telefones sem restrições só na presidência. À excepção destes casos, e quando um funcionário precisar de fazer uma chamada, terá de pedir ao telefonista, que passa a ter uma nova função: registar "o nome da pessoa que pediu a comunicação e o número de telefone ou de telemóvel para o qual a comunicação é feita".
O presidente exigiu ainda que lhe fosse apresentada uma "proposta de optimização das impressoras" de maneira a que só passe a existir uma por piso.
Qual é o mal?
Esta notícia não devia ser notícia. Estes deviam ser os procedimentos normais em todas as organizações do Estado, empresas públicas e privadas, bem como em casa de cada um de nós.
Falo, obviamente de questões ambientais no que toca a desligar aparelhos e apagar a luz, mas também do laxismo instalado no uso estúpido de telefones e telemóveis porque alguém, que não conhecemos, há-de pagar a conta.
E quanto papel se imprime desnecessariamente que, logo de seguida, vai para o lixo?
Não se trata de sermos miseráveis e forretas; trata-se de fazer um uso sensato de bens que, além de caros, são finitos.
O laxismo que se foi instalando na sociedade portuguesa, em que nada é valioso, em que a palavra poupar saiu do dicionário, é causa de muitos dos nossos males no trabalho, na família e na sociedade.
Quanto ao horário de trabalho, devia ser mais que suficiente trabalhar até às 19h00; há mais vida para além do trabalho. Claro está que muitos patrões decidem sobrecarregar os funcionários que têm em vez de contratarem os que lhes são necessários. Mas, nesses casos, onde está a inspecção de trabalho para pôr cobro aos desmandos?
Grande “colheita” fariam se decidissem percorrer certas zonas de escritórios e serviços fora das horas normais de funcionamento. Mas não, se o horário estiver afixado na porta eles já dormem descansados; além disso, para fazerem o que sugiro, teriam que ganhar horas extraordinárias.
Muita coisa tem que mudar na nossa vida. Infelizmente parece que só uma crise do tamanho do mundo faz (por enquanto, só alguns) perceber isso.
Daí a notícia ser notícia.

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