Classe média alta, Manhattan, um galerista de arte contemporânea, uma diretora de revista de arte, um casal acomodado nos seus mais de 20 anos de casamento, um irmão (dela) problemático, belo, inteligente, drogado, protegido pelas irmãs, cuja chegada vem alterar as rotinas assim-assim do casal, e, no fundo, uma crise de meia-idade.
As crises de meia-idade, por norma, levam a que se questione a identidade, e é o que aqui acontece chegando, inclusive, à crise de identidade sexual do protagonista, Peter
A crise de Peter é igual a todas as outras - descobre-se que o mundo continuará igualzinho para além de nós, percebe-se a beleza perdida, reaviva-se o desejo de a possuir, o desejo de (ainda) mudar, de poder recomeçar, e surge o primeiro confronto com a velhice que vem vindo, para no fim, geralmente, tudo ficar na mesma
Com uma escrita moderna e eficaz, o livro é quase, sem o ser, um monólogo interior do protagonista, que poder ser o monólogo de cada um de nós na sua crise de meia-idade.
Contudo, parece que o mundo não abanou em 2008, que ninguém se interrogou sobre essas mudanças violentas e que cada um continuou apenas entregue à meditação sobre o seu umbigo.
Se as questões abordadas são de sempre, elas também sofrem cambiantes pelas circunstâncias que as rodeiam. É isso que, quanto a mim, “falta” no livro de Cunningham.
Michael Cunningham
Ed. Gradiva, 2010
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