Depois de uma leitura mais atenta dos jornais no fim de semana sobre o turbilhão político da semana passada, só posso concluir que os nosso políticos, todos sem excepção, nos desprezam.
Sócrates andou durante meses a negociar com Bruxelas, ou Merkel, uma ajuda a Portugal em termos mais favoráveis e mais honrosos do que os que existiram para a Grécia e Irlanda. Estava à beira de o conseguir mas, durante o processo não se limitou a fazer como Mário Soares, que meteu o socialismo na gaveta; Sócrates meteu a democracia na gaveta e fechou-a à chave, não dando contas a ninguém do que andava a fazer.
Cavaco toma posse e faz um discurso de “sobressalto cívico” com implícitos e fortes ataques ao governo, fazendo, na prática, o papel de oposição.
Sócrates fica zangado e deita contas à vida sobre qual seria o momento mais vantajoso para si mesmo para abrir uma crise política. Decide então que o melhor é mandar o Teixeira dos Santos dar a boa notícia do PEC IV para desencadear o processo, sabendo muito bem que ia encurralar o PSD e hostilizar o PR.
Cavaco, patriota, não engole a afronta e decide não mexer um dedo para salvar o acordo de Bruxelas. O PSD, que nada tem de diferente para propor, como já se viu pelas declarações dos dias seguintes, e cujo líder parece ter a coluna vertebral dum caracol (palavras de Miguel Portas, que subscrevo) cai na esparrela, também não engole a afronta, até porque tem umas eleições para ganhar, e deita o governo abaixo. Sócrates parte para Bruxelas demissionários e os queridos mercados fazem a dança da Primavera e da fertilidade.
Cada um deles, Sócrates, PSD e Cavaco, pensou apenas em si próprio, borrifando-se para todos nós. Já nem falo dos partidos à esquerda do PS que, lamentavelmente, parecem ter optado por serem apenas do contra, não apresentando propostas exequíveis no sentido de defender os portugueses destes traficantes da política que, alternadamente, nos governam.
A pergunta é: que fazer? que fazer nas próximas eleições?
Há muito quem defenda o voto em branco; pessoalmente valorizo demais esse direito e dever para o poder usar numa tal situação. Além disso, não se pode convencer 6 ou 7 milhões a votar branco, sempre alguém votará por mim e, se tal, por absurdo, se conseguisse teríamos que perguntar – e depois, o que se segue?
Tenho a certeza que milhões de portugueses se sentem como eu e todos percebemos que este paradigma partidário não nos serve.
Está, portanto, criado o caldinho para o aparecimento de outro ou outros partidos. Poderia ser bom, mas temo que possa ser o contrário. Os portugueses gostam de homens providenciais e não foi por acaso que tivemos Salazar mais de 40 anos. Foi porque a grande massa dos portugueses não se incomodava muito com isso desde que pudesse levar a sua vidinha.
Com a falta de respeito que os partidos democráticos revelam por nós, não me admiraria que o povo achasse que um não-democratico servia muito melhor.
A política à portuguesa dá náuseas.
assino por baixo, cada vez mais nauseada.
ResponderEliminarE no resto do mundo é muito diferente?
ResponderEliminarNão será que os chamados "políticos" (lato senso e todos eles) são uma amostra representativa do todo que somos?
E na sequência do que escreveste (com que concordo), o que propões?
A mim parece-me que enquanto cada ser humano não se tornar, de facto, Mais Humano, nada mudará muito.
Entretanto... parece-me que a maioria deseja o Sr. Passos Coelho com o FMI a dizer-lhe o que fazer; e terá sempre a aceitável desculpa de que a culpa foi de Sócrates.
Por tudo isso, eu, que já nauseei há muito, vou por outros caminhos, como sempre, na minha vida.
António
António, o teu humanismo é tocante. Gosto! Mas também gosto de políticos sérios. Sim, há mais mundo. Basta pôr os olhos no Brasil ou na Islândia.
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