Eu, confesso, tenho medo dele. Quero dizer, VPV é tão pessimista, mas tão pessimista que eu, depois de o ler, penso que gostava de ser urso para hibernar.
Assim, começo por olhar de través para o título da crónica; se acho que me posso aventurar, fecho um olho e começo a ler só com o outro. Por vezes desisto, ou melhor, fujo, outras vezes acho que posso abrir o olho fechado e ler com mais comodidade. Foi o que aconteceu com a crónica de 6ª feira, dia 4 de Março.
Discordando profundamente, e com boa argumentação, da opinião de Mário Soares, de quem se confessa admirador, sobre a manifestação de jovens no dia 12 de Março, acabou por suscitar a minha curiosidade para ler o artigo de Mário Soares no DN. A certa altura escreve:
“E agora pude, finalmente, ler um blogue que circula inspirado na canção - ou melhor, aproveitando-a - para convocar para o próximo dia 12 de Março uma manifestação de protesto, que querem tenha um milhão de participantes - imagine-se! - contra a política, os políticos, os partidos, sem excepção, o Parlamento, o Governo, a justiça, a economia, as finanças, etc.. Sem indicar qualquer alternativa relativamente ao que querem. Que objectivo move os autores deste blogue? E haverá outros? Querem alguma coisa mais do que o caos? Não se trata de anarquistas. Nem, muito menos ainda, de marxistas, nem sequer de islâmicos radicais. Serão movidos tão-só pelo desespero? Tratando-se de desempregados e de precários, pode-se talvez compreender. Mas não, seguramente, apoiar. Porque são perigosos, antidemocratas, niilistas. Parece que esperam que alguém lhes indique um caminho. Mas qual e quem? A isso respondo: não, muito obrigado! Já tivemos disso 48 longos anos e não queremos mais...
Pensei que eu é que não estava a ver bem o assunto e fui procurar o Protesto da "Geração à Rasca”. Encontrei, para além do Manifesto, isto:
“Reafirmamos a total independência do protesto face a qualquer estrutura ou movimento de cariz partidário, político ou ideológico.
Este é um protesto: Apartidário, aberto a todos os partidos e a quem não tem preferência partidária; Laico, aberto a todas as religiões e a quem não tem religião; e Pacífico!
Nunca foi enviada qualquer lista de reivindicações. O manifesto é o único documento associado ao protesto.
Não protestamos pela demissão de nenhum político ou governo.
Queremos reforçar a democracia participativa e nunca o seu contrário!
É uma fatalidade – envelhecemos e há coisas nas gerações mais novas que não percebemos mesmo, porque têm outra experiência de vida, outros códigos. Aceitar isso é sinal de lucidez, continuar a opinar sem ter percebido patavina e com a formatação mental de quem nasceu no princípio do século passado ainda activada, é senilidade.
O Dr. Mário Soares, na sua ligeireza, trocou tudo, deixou-se enganar por uma coisa parasita que anda aí na internet a pedir um milhão na avenida, e que se limita a ser contra tudo e todos, confundindo-a com os propósitos da concentração de dia 12 de Março.
Acho que alguém devia ajudar o Dr. Mário Soares a acabar o seu “reinado” com dignidade, nem que fosse fazendo uma boa revisão do que ele escreve.
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