Há anos que não via o Festival da Canção mas, este ano, fui ouvindo. Não vou, sequer, usar adjetivos. O festival teve os seus tempos de glória antes do 25 de Abril mas, hoje em dia, não passa da apoteose da dissonância mal-amanhada. Em termos europeus, tornou-se uma festa de adolescentes retardados em que vizinhos fazem declarações de amor aos vizinhos, sobretudo os europeus de leste. Chega a ser patético de tão despudorado.
A canção que ganhou este ano, e que tanta celeuma está a levantar, não sei se voluntária ou involuntariamente não podia representar melhor aquilo que hoje em dia domina o país – mau gosto, mediocridade, alarvidade, mas também um grande desejo de contestar.
A canção apenas é tão má como todas as outras, mas o voto do público foi político.
Espanta-me, porém, que alguns intelectuais estejam tão incomodados e possam até dizer, como ouvi Miguel Sousa Tavares na SIC, que não se percebe como se vai cantar esta canção para uma plateia de alemães de cujo dinheiro precisamos. É verdade que precisamos, mas também é bom ir sempre recordando que a Alemanha já precisou muito do dinheiro dos outros pelo menos em duas ocasiões – para se levantar dos escombros da 2ª Guerra Mundial e para fazer a sua reunificação.
Ora, se já custa um bocado ver Sócrates ir ao beija-mão da Merkel, que não representa a Europa mas manda na Europa, a mim custa-me ainda mais ver e ouvir alguns intelectuais, que se gabam de ser espíritos livres e democráticos, achando que nos temos de autocensurar diante dos alemães. Isso sim, é coisa que até dá pele de galinha.
No fundo, no fundo, toda a gente acha que a contestação a sério pode estar aí a chegar e há muitos que, só de pensar nisso, tremem de medo.
No fundo, no fundo, toda a gente acha que a contestação a sério pode estar aí a chegar e há muitos que, só de pensar nisso, tremem de medo.
Estão bem na vida, acham que o país está mal, não gostam de pagar tantos impostos mas gostam ainda menos da perspectiva de o “povo sair à rua num dia assim”.
Estou convencida que nada de sério ou grave vai acontecer mas, que eles estão com medo, lá isso estão. E, se a subserviência é sempre uma coisa muito triste de se ver, vinda de quem se "vende" como livre e independente é, não só triste, como confrangedora.
e ainda disse (MST) que não é na rua que se faz a luta. não só, mas também (digo eu, que não comento mais do que alguns textos de blogs...)! e hoje, 12 de Março 2010, os portugueses mostraram isso mesmo.
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