A propósito do comentário colocado no dia 9 de Fevereiro,(Que enganados que estão) um amigo disse que o seu teor era passadista, parcial e com uma visão esterotipada. Como foi um Amigo, daí resultou uma animada e saudável troca de ideias.
Resumindo um pouco, o meu amigo achou que eu estava com ideias muito próximas da esquerda radical e recordou o sofrimento dos povos que viveram sob o regime preconizado pelo PCP ou BE. Achou também que incitar à contestação colectiva podia descambar em violência e que eu estava a ser incoerente porque criticava um regime em que vivo muito confortavelmente.
Ora bem, eu respondi que não esqueço o que foram os regimes comunistas, que, aliás, estão mortos e enterrados (quase), mas não pertenço ao lote dos politicamente corretos que acham que têm de estar sempre a pedir desculpa da história que aconteceu a determinado momento porque houve condições para isso (falo da escravatura, da colonização ou dos regimes comunistas com os seus gulags ou da perseguição e extermínio dos judeus, ciganos, comunistas, homossexuais etc. na 2ª guerra mundial) A história existiu, é para aprendermos com ela e não repetirmos os mesmos erros; não temos que pedir desculpa a toda a hora, nem temos que nos servir das partes terríveis do nosso passado comum para ficarmos paralisados de medo face a novos desafios da mesma história.
Não pretendi incitarar à violência mas não sou, nem nunca fui, pacifista. Defendo o debate e a concertação, sou contra guerras injustas e pela paz, mas também acho que às vezes a guerra é o último recurso para defender a dignidade dos seres humanos. Se assim não fosse o Hitler não teria sido derrotado. Pacifista sim, mas não a qualquer preço.
É certo que vivo confortavelmente mas isso não me deixa cega ou incapaz de me indignar com o facto de se poder ganhar milhões à custa de pagar salários (precários) de €500; sou apenas contra o capitalismo sem regras nem vergonha.
Foi por termos permitido a cada vez mais desigual repartição da riqueza que chegámos até aqui. Quanto mais desigual a sociedade, mais infeliz, ressentida, invejosa e violenta.
Quando escrevi que só o coletivo PODE, acho que os inúmeros exemplos falam por si - Egipto e Tunísia agora, revolução de veludo em Praga, queda do muro de Berlim, Maio de 68 e o nosso 25 de Abril que, se não fosse o coletivo que tomou as ruas não teria, talvez, passado dum golpe militar para acabar com a guerra. Reafirmo que sozinhos não valemos um pataco para o poder político e económico.
Finalmente, recomendo a leitura do livro de Tony Judt “ Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos” que, não me trazendo fantásticas revelações, me ajudou a organizar o pensamento.
Na última frase do livro ele diz”…até aqui os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; a questão é mudá-lo.” Eu concordo.
"A história existiu, é para aprendermos com ela e não repetirmos os mesmos erros (... nem) para ficarmos paralisados de medo face a novos desafios da mesma história."
ResponderEliminarExactamente!
Por isso mesmo, eu que:
- estou cansado dos políticos, das políticas, das politiquices, dos jornais e dos telejornais;
- estou cansado dos considerados "opinion makers", das suspeitas (com razões ou sem elas), das fraudes (provadas ou eternamente por provar), das calúnias (que até podem não o ser pela simples razão de serem factos);
- estou convictamente descrente das estratégias, dos métodos, das práticas, das "soluções" apregoadas (é este um dos domínios em que se centra a minha discordância relativamente ao que escreveste);
Acredito cada vez mais que alguns de nós, entre os quais te incluo, podemos abandonar toda esta postura e todo este discurso, que outros continuarão a fazer por nós.
É toda uma visão, um estar e um actuar assentes noutras premissas (aqui reside o fundamental da nossa discordância) que nos conduzem a um discurso completamente diferente, que pressupõe que só mudando o indivíduo, o colectivo mudará de facto.
As realidades sociais de hoje não exigirão enquadramentos teóricos diferentes dos das desgastadas "esquerda/direita", "luta de classes" e outras que tais, mas, antes, centrados, por exemplo, em algo como um ”DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL”, em todas as suas dimensões?
Para mim, só o SER HUMANO PODE. Pode o quê? Tornar-se verdadeiramente Humano, não repetir a história, aprendendo com os erros do passado (como tu bem referes), e mudar o Mundo pela maneira pacífica e inovadora de nele viver de forma justa e ecológica.
Não creio que o conflito (que acaba, quase sempre, de forma violenta) seja o caminho, tantas vezes já repetido. Defender a “Não-violência” é defendê-la em todas as circunstâncias.
A MUDANÇA INTERIOR, essa sim, é pacífica, inovadora, real e eficaz. Real e eficaz, mesmo que não pareça…
Utópico? Como tudo, até que seja atingido.
AP