terça-feira, agosto 27, 2013

Consumidos pelo ódio

Desde domingo que padeço duma persistente náusea.

Chegada a casa depois de um tão simples quanto excelente almoço em excelente companhia e em paisagem privilegiada, ligo o computador e tomo conhecimento de que António Borges morreu.

Nada de particular tinha a dizer na sua morte.

Era antes de mais, e sobretudo naquela hora, um homem como qualquer outro, isto é, marido, pai, avô e talvez ainda filho de alguém que, inevitavelmente estava sofrendo uma perda.

Para além disso, era um homem que, sobre sociedade e política pensava o oposto do que eu penso, dizia-o, e desse conjunto de pensamentos e palavras nascia uma figura que me era muito antipática.

Contudo, o poder de que alguma vez dispôs para nos fazer mal não lhe caiu do céu, nem foi usurpado, antes lhe foi outorgado por aqueles a quem nós próprios confiámos o poder.

A dita náusea, porém, nasceu e cresceu à medida que fui lendo o que se publicava nas redes sociais.

Cheguei a ler agradecimentos ao cancro, vi evocar o castigo divino, e vi também desferir violentos ataques sobre quem, não lamentando a morte do homem, ousou, porém, insurgir-se contra tanta intolerância e ódio.

Como é feio de ver este meu povo de esquerda que, impotente para sacudir as cangas que periodicamente lhe põem ao pescoço, se acoita no ódio e se  alivia  chafurdando num sórdido e generalizado rancor.

Um homem e um político que defende o que António Borges defendeu é, para mim, um homem desprezível, sem sombra de dúvida.

Mas, e daí? Temos mesmo de ser iguais a ele?

 

Sem comentários:

Enviar um comentário