Pode-se gostar de arte e de visitar exposições, mas ouvir os artistas visuais a falar do seu trabalho é, à partida e garantidamente, uma experiência que vale a pena ter.
O Museu do Chiado, que no primeiro semestre deste ano aumentou em 63% o número de visitantes em relação ao mesmo período do ano passado (nem tudo são más notícias), tem a decorrer um programa a que chamou “Outros Olhares, Novos Projectos”. Convidou vários artista para que cada um escolha uma obra do museu e produza outra para com ela dialogar.
Neste momento, o olhar e o projecto são de Ana Vidigal, que escolheu o quadro de José Malhoa, “Praia das Maçãs”. Colocou-o em confronto com grandes impressões a jacto de tinta de páginas do seu próprio álbum de fotografias da infância passada na mesma praia, e feito pela sua mãe. Na adolescência, Ana Vidigal retirou as fotos e distribuiu-as pelos amigos, pelo que agora vemos apenas as palavras escritas pela mãe, legendando as imagens, e os cantos que seguravam as fotografias. No texto que acompanha exposição, escrito pela artista, lê-se:
“Mostrar o vazio. Mostrar aos outros que o cérebro, a memória e o que cada um inventa para a sua própria “história” é muito mais profundo que o mar. Ver está muito para além do (nosso) olhar.”
Tudo isto e muito mais explicou Ana Vidigal numa conversa com os visitantes, na sua maneira simples, despretensiosa, directa, fluida, por vezes irónica. E, sendo a ironia um traço característico de Ana Vidigal, não se estranha o subtítulo por ela escolhido (projecto ana/malhoa) que primeiro se estranha e depois diverte. A exposição completa-se com uma fotografia actual do local pintado por José Malhoa e com a frase do poema de Emily Dickinson “the brain is deeper than the sea”. Uma vez que não há anúncio de mais conversas destas, quem visitar a exposição precisa absolutamente de ler o texto citado, escrito pela artista, e que se encontra disponível à entrada do espaço expositivo.
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