Ao contrário de muitos, não me incomoda que o comércio da Baixa e Chiado esteja fechado ao domingo, sobretudo se for verão. Comércio aberto convida ao consumo, atrai para si mesmo e distrai de tantas outras coisas que, na pressa dos dias, nem notamos.
Domingo de verão na baixa de Lisboa é dia vazio de autóctones, a não ser os que vão para a missa na igreja dos Mártires, e as ruas são deixadas aos turistas. Há-os de todas as idades mas geralmente são jovens, com as suas mochilas, calções, saias largas, sandálias em pés sujos, guias na mão, fotos por tudo e por nada, risos de tudo e de nada, e linguajar em múltiplas modulações.
Os bancos á sombra das árvores no largo do S. Carlos convidam a sentar, e o convite é aceite; subitamente reparo, e pela primeira vez VEJO, a horrível escultura que se perfila diante da bela e harmoniosa fachada neoclássica do Teatro S. Carlos, junto ao prédio em que nasceu Fernando Pessoa.
Olhei-a de todos os lados, girei para a direita, para a esquerda, fui pelas costas e subi pela frente, e não mudei de opinião – horrível.
Então, investiguei
O seu autor é Jean-Michel Folon, artista belga já falecido; foi comprada pela autarquia lisboeta em 2001, andou por aí, até que em 2008 foi colocada onde agora esbarrei com ela. A coisa não é má, é péssima - uma figura de homem em bronze, hirta, com os braços atrás das costas e um livro enfiado na cabeça (e em vez dela). Na capa do livro está escrito Pessoa, e na contracapa Lisboa. O conjunto é assustador. Virei costas e continuei o caminho pela Rua Serpa Pinto abaixo, donde logo vislumbrei o rio com o seu azul limpo, puro, luminoso e mediterrânico.
Nesse exacto momento, perdoei a todos os Folon deste mundo.
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