segunda-feira, abril 11, 2011

Sócrates, o mau aluno de Guterres

Na última eleição directa do PS, quando foi eleito à coreana, José Sócrates disse claramente, quando apresentou a sua moção, que “não está disponível para governar com o FMI”.
O vídeo desse momento anda por aí; se fosse coerente ou confiável, deveria dizer ao seu partido que elegesse outro, e ir-se embora. Sabemos, porém, que tal nunca acontecerá.
Recordo o que foi o fim do governo de António Guterres. Na noite em que perdeu as eleições autárquicas em 2001, demitiu-se de primeiro-ministro dum governo que governava há 6 anos em minoria. Disse ele que, a partir daí seria o “pântano” e toda a gente resolveu dizer que ele fugiu.
Nunca achei que ele tivesse fugido, apenas me pareceu que era um homem que tinha ainda a, já então rara, perspicácia de saber quando sair.
Evitou o pântano dum país que seria ingovernável e fez bem, como se pode comprovar agora que vivemos, de facto, num verdadeiro pântano.
Sócrates, enquanto ministro de Guterres, foi seu aluno, mas, também aí, foi um mau aluno. É certo que os últimos tempos do governo de Guterres foram grotescos, cedendo a todos os interesses corporativos, dizendo e desdizendo, e assim caindo na paralisia total. Mas, por um tempo, com Guterres, fomos felizes. Saídos de 10 anos de cavaquismo cinzento e musculado, muitos saíram também da pobreza com o Rendimento Mínimo e Portugal subiu muitos pontos na tabela do Índice de Desenvolvimento Humano; nasceu uma verdadeira classe média, foi o tempo da Expo, da luta por Timor e da criação de políticas culturais coerentes como o país nunca tinha visto, e nunca mais veio a ver.
Gastámos demais? Claro que sim, mas com os outro todos também gastámos só que com pior distribuição.
Sócrates, aluno de Guterres, também diz e desdiz mas não é o diálogo que o leva à hesitação. É apenas a sua incapacidade para navegar de outro modo que não seja “à vista”. Desde cedo decidiu que a tendência para o diálogo e consenso do seu professor eram um mal que não o iria atacar e, a cavalo duma maioria absoluta decidiu que não tinha que ouvir senão o seu pequeno grupo de apaniguados para decidir. Assim, desde cedo concitou múltiplos ódios e acumulou erros desnecessários.
Onde Guterres se preocupou com a dignidade dos mais pobres, através do rendimento mínimo, Sócrates preocupou-se com o défice e a grandeza da obra a fazer, exercendo um verdadeiro esbulho na coleta fiscal que ia muito para além daquilo que, ao tempo, era mesmo necessário pôr em ordem. Os pobres pagaram e os ricos continuaram a usar os paraísos fiscais e continuaram a não pagar. O fosso social aumentou.
Guterres soube quando ir embora, percebeu que os portugueses já estavam fartos dele e demitiu-se.
Sócrates parece ainda não ter percebido que todos estão fartos dele, que está na raiz de muito do nosso descontentamento, e insiste em ficar mesmo tendo criado as condições com as quais, afirmou, não estaria disponível para a governação (termo que lhe é muito caro). Tem medo que digam que ele fugiu, como se disse de Guterres, e acha que tem de nos mostrar que é muito macho, um macho que não foge. Assim, deixou, com a ajuda de Passos e Cavaco, que se criasse um pântano como nunca tínhamos visto antes, e… fica.
Pouco lhe importa que arraste consigo o PS por muitos anos, que nos entregue nas delicadas mãos do FMI e dum governo neoliberal de jotinhas sem um pingo de cultura política, (que já dizem cada dia sua coisa, cada garganta seu gargarejo).
Ele não sai porque, ao contrário do frouxo Guterres, ele é um duro, um “animal feroz”.
Ele não sai porque, ao ouvir os aplausos no Congresso do PS pensa que é insubstituível.
Ele não sai porque, entre outras coisas, é um mau aluno de Guterres.

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