quarta-feira, maio 04, 2022

Como?


Como é que  podemos ficar indiferentes diante de tais alarvidades?

Como é que ninguém explica à criatura que Portugal é uma democracia e que nas democracias não se ilegalizam partidos, como na Ucrânia?

Como ensinar ao rapaz o que ele já devia saber: que o PCP tem lá as suas parvoíces ( agora até se excedeu nelas) mas teve também um papel fundamental na luta contra a ditadura e na construção da democracia?

Como explicar àquele humano que, por cá, estender a mão e sentir que nos querem levar o braço não é coisa do nosso agrado?

Como ensinar a um "burro velho" as regras de boa educação e convivialidade na casa dos outros quando, estando em fuga, se aceita um convite para partilhar o tecto, e às vezes os parcos haveres?

Como?
 

terça-feira, maio 03, 2022

Interrupção voluntária do progresso

 




Público, 3 Maio 2022

Supremo Tribunal dos EUA pronto para anular direito ao aborto


Leio:
"Um documento a circular no Supremo Tribunal dos Estados Unidos prevê a anulação da decisão histórica de 1973 que estabeleceu o direito ao aborto, noticia o jornal Politico com base em documentos internos do tribunal, em que se mostra uma maioria de votos a favor da decisão..."
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Constato:
Depois de ter assistido, e ajudado, a tantas conquistas para a humanidade, raro é o dia em que, ao abrir o jornal, não tenho o calafrio de ver o mundo a andar para trás.
Chiça!, é tão triste.

quarta-feira, abril 27, 2022

A senhora Inna Ohnivets

O 25 de Abril não é de ninguém. É de todos os que se queiram encontrar na rua, celebrando a liberdade e uma data que lhes é querida.

É dia de risos e abraços, encontros, cravos na mão, corres garridas no vestuário, ténis nos pés, conversas, recordações e esperança no futuro.

Quem quiser, aparece. Vai alinhado ou desalinhado. Pertence a um grupo ou a si mesmo. E tudo isso está bem.

Tem sido sempre assim, até que apareceu um novo partido, a Iniciativa Liberal, que está sempre de olho na “facturação” e no lucro. Foi isso que bispou ao convidar a senhora Inna Ohnivets , embaixadora da Ucrânia em Lisboa, para desfilar com eles numa festa à parte, só deles.

E não é que a senhora Inna aceitou? Embrulhou-se na bandeira do seu país e lá foi. Tenho para mim que a senhora Inna sabe tanto do que é a IL como de Bacalhau à Zé do Pipo, e isso nem seria grave se não mostrasse que ela também não sabe qual deve ser o papel de um embaixador, e isso, sim, já é grave.

A ajuda de Portugal à Ucrânia, tem sido feita por todos nós, individual e colectivamente, mas por TODOS. Em nenhuma circunstância um embaixador pode aliar-se a uma parte do país que o acolhe em detrimento de outra mas, neste caso em particular, é de uma injustiça tremenda.

Acredito que não fez por mal, não creio que seja liberal nem qualquer outra coisa.

Como não tenho más intenções, quer-me parecer que a senhora Inna será apenas burra.


terça-feira, abril 26, 2022

A coisa que nos une

 Centenas de milhar de pessoas enchendo durante horas a Avenida da Liberdade em Lisboa, do Marquês ao Rossio. Esmagador. Continua a surpreender-me. 47 anos depois (e apesar de dois anos de interrupção pela pandemia), o 25 de Abril continua a ser O Dia. Surpreende pela adesão, e surpreende porque não é uma manifestação com uma reivindicação, não é uma festa, não é um evento desportivo ou religioso. É simplesmente um estar na rua, um passear, um estar junto, marcar presença no sentido bom da expressão. E o que se celebra não é uma data nacionalista, não é uma independência, não é uma vitória bélica, é o fim duma ditadura e o estabelecimento duma democracia. Que seja este o motivo e que seja aquela a forma de celebrar, é uma preciosidade e uma raridade. Que seja isto que nos une às centenas de milhar ano após ano é extraordinário e um bem valiosíssimo a preservar na nossa comunidade e que já foi passado às gerações seguintes.”


Miguel Vale de Almeida, numa rede social

(são 48 anos e não 47 como ele escreve)

25 Abril 2022


domingo, abril 24, 2022

Ainda a França - Jacques Rancière

 ...

Onde Le Pen e Macron lideram as intenções de voto.

Em França, governa um partido de direita e a oposição é da extrema-direita. Isto significa que a oposição não está a ser liderada pela esperança, mas pelo ressentimento. É um fenómeno significativo, o ressentimento, e tudo aquilo que ele gera.

Quer explicar?

Em tempos, houve um conjunto de ideais que tentaram opor-se à ordem capitalista. Hoje, essa oposição surge não no sentido de mudar a situação ou de incomodar a ordem dominante, mas como uma espécie de desespero que se traduz em ressentimento, que por sua vez se traduz em xenofobia, racismo, segregação. Em última instância, procura-se encontrar um ‘responsável’. Não havendo mudança possível, é preciso alguém em quem depositar a culpa.

Excerto da entrevista publicada no Expresso de 23 Abril 2022

sábado, abril 23, 2022

Erros meus


Houve um tempo em que acreditei que Trump não seria eleito.

Houve um tempo em que acreditei na derrota do Brexit.

Hoje acredito que a Le Pen pode ganhar em França amanhã.

Desejo muito estar de novo enganada.

sexta-feira, abril 22, 2022

Diferenças

 Nestes tempos conturbados, o que me incomoda, e me pode levar a cortar relações com alguém, não é a diferença de opinião, é a diferença de valores.

Nunca esta tinha sido tão exposta como neste ano da (des)graça de 2022.

quarta-feira, abril 20, 2022

O meu bairro é assim

No meu bairro esgotaram-se as cabeças para dar trabalho a tantas cabeleireiras, esteticistas e dentistas.

Passámos, então, ao corpo, e agora nascem diariamente ginásios normais e especiais, e clínicas de reabilitação normais e especiais, não sendo raro que cresçam paredes-meias.

Difícil, mesmo, é encontrar um simples marco do correio.

sábado, abril 16, 2022

Páscoa


 "A vida é um pequeno espaço de luz entre duas nostalgias. A nostalgia do que ainda não vivemos e a do que já não poderemos viver."

Rosa Montero

"A Carne"

quarta-feira, abril 13, 2022

Encruzilhadas


 No princípio dos anos 2000 li Correcções de Jonathan Franzen e gostei muitíssimo.

Depois li Freedom e só gostei assim-assim, deixei passar Purity e agora decidi-me por ler Encruzilhadas.

Desta vez não entramos num bocado da América contemporânea, como é costume do autor, mas regredimos aos anos 1970 num qualquer subúrbio próspero de Chicago.

Mais uma vez a família, os seus momentos de rotura pessoais e colectivos, tudo contado com uma estrutura que considero preguiçosa, isto é, uma pessoa de cada vez, uma história de cada vez, um drama de cada vez, uma rotura de cada vez.

É certo que ele sabe contar histórias que nos entretêm mas no fim, também com alguma preguiça, ouso canibalizar Rogério Casanova na sua apreciação do livro quando ele escreve:

 A sensação que fica muitas vezes dos seus livros é a de um aluno muito esperto que decidiu dedicar toda a sua energia a fazer o melhor trabalho de casa de todos os tempos.”

Não é muito, convenhamos.


sábado, abril 09, 2022

Pergunta

 Se o governo disse que Portugal tem cereais até ao final do ano, por que é que o preço do pão sobe todas as semanas?


sexta-feira, abril 08, 2022

Quem perceber isto, levante o dedo

 


Esta é a notícia do "dinheiro vivo". Por outros meios ficámos a saber que a empresa que lhe paga este ordenado, e de que é dona, recebe 448.000€ de apoios do estado (nossos, portanto, via Orçamento G do Estado) para a ajudar a suportar o aumento do salário mínimo dos trabalhadores. aqui


quarta-feira, abril 06, 2022

Multitasking

 A trela do cão vai atada ao carrinho do bebé que o jovem pai empurra com a mão direita enquanto, com a esquerda, manobra o telemóvel.

Passear o filho, passear o cão e actualizar o seu mundo.

Quem disse que só as mulheres são multitasking?

domingo, abril 03, 2022

Da propaganda


 A chamada propaganda política feita pelos partidos que não levam a mal as ditaduras, tem evoluído pouco. Arrebanha-se um punhado de jovens e jovens adultos e bate-se a chapa com os devidos meios de identificação.

Esta imagem é da campanha de Orbán na Hungria (eleições hoje) e tirei-a do Expresso.

Uma pessoa olha e pensa:  Ó pra eles tão arrumados, bem vestidos, penteados, banho tomado, maquilhagem discreta, barba aparada, ar saudável. Caramba, a Hungria está cheia de jovens que estudaram em Oxford e foram logo trabalhar para importantes consultoras.

Só que não.

sexta-feira, abril 01, 2022

A bela Jada


 

Nunca gostei, nem achei graça, ao Will Smith. Por nada de especial, apenas uma antipatia que não se sabe de onde vem, não tem justificação mas também não pede desculpas por existir.

Quanto à sua mulher, não sabia quem era. Conheci-a agora, Jada Pinkett Smith.

Achei-a lindíssima, sofisticada, exótica. Fiquei também agora a saber que rapou o cabelo porque sofre de alopécia, e que decidiu tornar pública a sua doença e o remédio santo que para ela encontrou - rapadela global.

Sabemos que, hoje em dia, tendo meios financeiros, só exibe a careca quem quer, dado que os meios materiais para remediar o mal existem em cada esquina.

O que me quer parecer é que a Jada é uma mulher inteligente e soube tirar partido dum azar da vida. Sem cabelo, ela é imbatível no seu exotismo, com cabelo, bom, talvez fosse só mais uma mulher bonita.

Portanto, acredito que armar-se em vítima corajosa apenas faz parte dum quadro de marketing, montado para lhe trazer vantagens.

Nada disto tem mal nem faz mal a ninguém. O resto, sim.

Mas sobre o resto já toda a gente escreveu e opinou – violência do que tem mais poder sobre o que tem menos, agressividade como modo de vida, masculinidade tóxica.

Infelizmente, a bela Jada parece precisar de tudo isto para se sentir amada pelo seu homem.


quarta-feira, março 30, 2022

O Crepúsculo da Democracia

“O som estridente, dissonante, da política moderna;a raiva na televisão por cabo e nos noticiários da noite; o ritmo rápido das redes sociais e os títulos das notícias que entram em conflito uns com os outros quando por ele navegamos; a lentidão, por outro lado, da burocracia e dos tribunais – tudo isto tem enervado aquela parte da população que prefere a unidade e a homogeneidade. A própria democracia tem sido, desde sempre, ruidosa e tumultuosa, mas, quando as suas regras são seguidas, acaba por criar consensos. Os debates actuais, porém, não o fazem. Em vez disso, inspiram algumas pessoas a silenciarem pela força as restantes.”

Anne Applebaum

O Crepúsculo da Democracia

O fracasso da política e o apelo sedutor do autoritarismo


Bertrand Editora


terça-feira, março 29, 2022

Bom Ano

Como amante de livros que sou, gosto de seguir o trabalho da jornalista Isabel Lucas, seja no jornal Público ou em podcast.

Há tempo, descobri no Spotify, um podcast semanal que ela faz com Mariana Oliveira, que não sei se é jornalista, radialista ou qualquer outra coisa, mas que lhe dá boa réplica.

Paraíso Perdido, assim se chama.

Comecei a ouvir os episódios (que são curtos, 5 a 6 minutos cada) dos mais antigos para os mais próximos, durante o passeio matinal.

Hoje, calhou começar com o programa de 3 de Janeiro 2020. Como é natural, Isabel e Mariana trocaram votos de Bom Ano, coisa que eu também me lembro de ter feito, como faço sempre, sendo frequente que nos desejemos uns aos outros, e em complemento, “que seja melhor que este”. 

Acho que sorri.

Mal sabíamos nós todos que nos dois anos seguintes viveríamos uma pandemia, e que à entrada do terceiro ano, uma guerra na Europa.

É uma sorte que não adivinhemos o futuro e que a esperança seja sempre a última a morrer.


Ps: Encontra-se em podcasts da Antena 3 da RDP e nas redes sociais.