terça-feira, abril 26, 2022

A coisa que nos une

 Centenas de milhar de pessoas enchendo durante horas a Avenida da Liberdade em Lisboa, do Marquês ao Rossio. Esmagador. Continua a surpreender-me. 47 anos depois (e apesar de dois anos de interrupção pela pandemia), o 25 de Abril continua a ser O Dia. Surpreende pela adesão, e surpreende porque não é uma manifestação com uma reivindicação, não é uma festa, não é um evento desportivo ou religioso. É simplesmente um estar na rua, um passear, um estar junto, marcar presença no sentido bom da expressão. E o que se celebra não é uma data nacionalista, não é uma independência, não é uma vitória bélica, é o fim duma ditadura e o estabelecimento duma democracia. Que seja este o motivo e que seja aquela a forma de celebrar, é uma preciosidade e uma raridade. Que seja isto que nos une às centenas de milhar ano após ano é extraordinário e um bem valiosíssimo a preservar na nossa comunidade e que já foi passado às gerações seguintes.”


Miguel Vale de Almeida, numa rede social

(são 48 anos e não 47 como ele escreve)

25 Abril 2022


domingo, abril 24, 2022

Ainda a França - Jacques Rancière

 ...

Onde Le Pen e Macron lideram as intenções de voto.

Em França, governa um partido de direita e a oposição é da extrema-direita. Isto significa que a oposição não está a ser liderada pela esperança, mas pelo ressentimento. É um fenómeno significativo, o ressentimento, e tudo aquilo que ele gera.

Quer explicar?

Em tempos, houve um conjunto de ideais que tentaram opor-se à ordem capitalista. Hoje, essa oposição surge não no sentido de mudar a situação ou de incomodar a ordem dominante, mas como uma espécie de desespero que se traduz em ressentimento, que por sua vez se traduz em xenofobia, racismo, segregação. Em última instância, procura-se encontrar um ‘responsável’. Não havendo mudança possível, é preciso alguém em quem depositar a culpa.

Excerto da entrevista publicada no Expresso de 23 Abril 2022

sábado, abril 23, 2022

Erros meus


Houve um tempo em que acreditei que Trump não seria eleito.

Houve um tempo em que acreditei na derrota do Brexit.

Hoje acredito que a Le Pen pode ganhar em França amanhã.

Desejo muito estar de novo enganada.

sexta-feira, abril 22, 2022

Diferenças

 Nestes tempos conturbados, o que me incomoda, e me pode levar a cortar relações com alguém, não é a diferença de opinião, é a diferença de valores.

Nunca esta tinha sido tão exposta como neste ano da (des)graça de 2022.

quarta-feira, abril 20, 2022

O meu bairro é assim

No meu bairro esgotaram-se as cabeças para dar trabalho a tantas cabeleireiras, esteticistas e dentistas.

Passámos, então, ao corpo, e agora nascem diariamente ginásios normais e especiais, e clínicas de reabilitação normais e especiais, não sendo raro que cresçam paredes-meias.

Difícil, mesmo, é encontrar um simples marco do correio.

sábado, abril 16, 2022

Páscoa


 "A vida é um pequeno espaço de luz entre duas nostalgias. A nostalgia do que ainda não vivemos e a do que já não poderemos viver."

Rosa Montero

"A Carne"

quarta-feira, abril 13, 2022

Encruzilhadas


 No princípio dos anos 2000 li Correcções de Jonathan Franzen e gostei muitíssimo.

Depois li Freedom e só gostei assim-assim, deixei passar Purity e agora decidi-me por ler Encruzilhadas.

Desta vez não entramos num bocado da América contemporânea, como é costume do autor, mas regredimos aos anos 1970 num qualquer subúrbio próspero de Chicago.

Mais uma vez a família, os seus momentos de rotura pessoais e colectivos, tudo contado com uma estrutura que considero preguiçosa, isto é, uma pessoa de cada vez, uma história de cada vez, um drama de cada vez, uma rotura de cada vez.

É certo que ele sabe contar histórias que nos entretêm mas no fim, também com alguma preguiça, ouso canibalizar Rogério Casanova na sua apreciação do livro quando ele escreve:

 A sensação que fica muitas vezes dos seus livros é a de um aluno muito esperto que decidiu dedicar toda a sua energia a fazer o melhor trabalho de casa de todos os tempos.”

Não é muito, convenhamos.


sábado, abril 09, 2022

Pergunta

 Se o governo disse que Portugal tem cereais até ao final do ano, por que é que o preço do pão sobe todas as semanas?


sexta-feira, abril 08, 2022

Quem perceber isto, levante o dedo

 


Esta é a notícia do "dinheiro vivo". Por outros meios ficámos a saber que a empresa que lhe paga este ordenado, e de que é dona, recebe 448.000€ de apoios do estado (nossos, portanto, via Orçamento G do Estado) para a ajudar a suportar o aumento do salário mínimo dos trabalhadores. aqui


quarta-feira, abril 06, 2022

Multitasking

 A trela do cão vai atada ao carrinho do bebé que o jovem pai empurra com a mão direita enquanto, com a esquerda, manobra o telemóvel.

Passear o filho, passear o cão e actualizar o seu mundo.

Quem disse que só as mulheres são multitasking?

domingo, abril 03, 2022

Da propaganda


 A chamada propaganda política feita pelos partidos que não levam a mal as ditaduras, tem evoluído pouco. Arrebanha-se um punhado de jovens e jovens adultos e bate-se a chapa com os devidos meios de identificação.

Esta imagem é da campanha de Orbán na Hungria (eleições hoje) e tirei-a do Expresso.

Uma pessoa olha e pensa:  Ó pra eles tão arrumados, bem vestidos, penteados, banho tomado, maquilhagem discreta, barba aparada, ar saudável. Caramba, a Hungria está cheia de jovens que estudaram em Oxford e foram logo trabalhar para importantes consultoras.

Só que não.

sexta-feira, abril 01, 2022

A bela Jada


 

Nunca gostei, nem achei graça, ao Will Smith. Por nada de especial, apenas uma antipatia que não se sabe de onde vem, não tem justificação mas também não pede desculpas por existir.

Quanto à sua mulher, não sabia quem era. Conheci-a agora, Jada Pinkett Smith.

Achei-a lindíssima, sofisticada, exótica. Fiquei também agora a saber que rapou o cabelo porque sofre de alopécia, e que decidiu tornar pública a sua doença e o remédio santo que para ela encontrou - rapadela global.

Sabemos que, hoje em dia, tendo meios financeiros, só exibe a careca quem quer, dado que os meios materiais para remediar o mal existem em cada esquina.

O que me quer parecer é que a Jada é uma mulher inteligente e soube tirar partido dum azar da vida. Sem cabelo, ela é imbatível no seu exotismo, com cabelo, bom, talvez fosse só mais uma mulher bonita.

Portanto, acredito que armar-se em vítima corajosa apenas faz parte dum quadro de marketing, montado para lhe trazer vantagens.

Nada disto tem mal nem faz mal a ninguém. O resto, sim.

Mas sobre o resto já toda a gente escreveu e opinou – violência do que tem mais poder sobre o que tem menos, agressividade como modo de vida, masculinidade tóxica.

Infelizmente, a bela Jada parece precisar de tudo isto para se sentir amada pelo seu homem.


quarta-feira, março 30, 2022

O Crepúsculo da Democracia

“O som estridente, dissonante, da política moderna;a raiva na televisão por cabo e nos noticiários da noite; o ritmo rápido das redes sociais e os títulos das notícias que entram em conflito uns com os outros quando por ele navegamos; a lentidão, por outro lado, da burocracia e dos tribunais – tudo isto tem enervado aquela parte da população que prefere a unidade e a homogeneidade. A própria democracia tem sido, desde sempre, ruidosa e tumultuosa, mas, quando as suas regras são seguidas, acaba por criar consensos. Os debates actuais, porém, não o fazem. Em vez disso, inspiram algumas pessoas a silenciarem pela força as restantes.”

Anne Applebaum

O Crepúsculo da Democracia

O fracasso da política e o apelo sedutor do autoritarismo


Bertrand Editora


terça-feira, março 29, 2022

Bom Ano

Como amante de livros que sou, gosto de seguir o trabalho da jornalista Isabel Lucas, seja no jornal Público ou em podcast.

Há tempo, descobri no Spotify, um podcast semanal que ela faz com Mariana Oliveira, que não sei se é jornalista, radialista ou qualquer outra coisa, mas que lhe dá boa réplica.

Paraíso Perdido, assim se chama.

Comecei a ouvir os episódios (que são curtos, 5 a 6 minutos cada) dos mais antigos para os mais próximos, durante o passeio matinal.

Hoje, calhou começar com o programa de 3 de Janeiro 2020. Como é natural, Isabel e Mariana trocaram votos de Bom Ano, coisa que eu também me lembro de ter feito, como faço sempre, sendo frequente que nos desejemos uns aos outros, e em complemento, “que seja melhor que este”. 

Acho que sorri.

Mal sabíamos nós todos que nos dois anos seguintes viveríamos uma pandemia, e que à entrada do terceiro ano, uma guerra na Europa.

É uma sorte que não adivinhemos o futuro e que a esperança seja sempre a última a morrer.


Ps: Encontra-se em podcasts da Antena 3 da RDP e nas redes sociais.

sábado, março 26, 2022

Um presidente inconveniente

Acabo de ler que Marcelo vai amanhã, domingo, dia 27 de Março, visitar a ilha açoriana de São Jorge que há uma semana sofre uma preocupante crise sismovulcânica.

Numa semana registaram-se 560 sismo e a hipótese de uma erupção vulcânica não é despicienda.

Depois de o governo dos Açores ter subido para 4 (em 5) o nível de alerta vulcânico na ilha de São Jorge, muitos habitantes estão a abandonar as suas casas, quando não a a sua ilha, e os serviços públicos envolvidos numa tal situação devem andar numa roda vivia.

Que vai lá fazer Marcelo? Complicar, certamente. Desviar as pessoas do seu trabalho para darem atenção e protegerem o presidente.

Ninguém, a não ser ele mesmo, vê alguma razoabilidade na sua presença por cima do vulcão.

Habituada que já estou aos seus desvarios, depois desta viagem, fico à espera que vá a Kiev dar um abraço solidário a Zelensky . É o que se impõe.

PS: A saúde mental do Presidente devia começar a merecer um pouco mais da nossa atenção.




sexta-feira, março 25, 2022

Um homem feliz

Olho António Costa e vejo um homem feliz, o que não espanta, porque ele é mesmo um homem de sorte.

Imagine-se que ele(s) não tinha acabado com a geringonça; como iria distanciar-se dos tiros no pé dados todos os dias pelo PCP no que se refere à guerra da Ucrânia?

Imagine-se que, por milagre, a Marcelo lhe tinha dado para ser um homem ponderado em vez de um espalha-brasas e criador de factos políticos, e antes de marcar eleições tinha tentado outras soluções que resultassem. Imagine-se que os portugueses não tinham culpado a esquerda pelo desentendimento e não tinham muito medinho do Chega.

Se os deuses não tivessem trabalhado neste sentido, não teríamos agora um Costa com maioria absoluta, uma esquerda quieta a lamber as feridas, e um Marcelo em perda, a quem mais não resta que fazer birras em público.

Posto isto, nem o euromilhões lhe fugiu, visto que chegou em forma de verbas para concretizar o PRR.

Cereja em cima do bolo ( que pode ser o de noiva): o casamento António/Fernanda parece estar a viver uma nova lua de mel - é que não se largam, quase pior que Maria e Aníbal.

Interrogo-me se a senhora não se cansará de tantas andanças pela mão do António. Não se deve cansar, pois também ela parece satisfeita no desempenho do papel de Constança -  como recordava outro António, o Vitorino, "não há festa nem dança onde não vá dona Constança".

Assim é Fernanda, que podia ser Constança.

Mas a felicidade é uma coisa bonita de se ver e o "amor em tempo de cólera" amolece o coração mais empedernido.

quinta-feira, março 24, 2022

Tudo se grava no corpo

 A guerra da Ucrânia já dura há um mês. A preocupação mantém-se mas, bem ou mal, perdeu energia no meu corpo.

A primavera entrou pelo calendário e trouxe a tão desejada chuva relaxando um pouco mais.

O regresso ao jardim trouxe recordações de outras primaveras mais felizes.