Desde há
muito, quaisquer duas linhas de escrita sobre José Sócrates começam obrigatoriamente
por uma declaração: não gosto de José Sócrates!
Às vezes
acrescenta-se-lhe outra: e nunca votei nele!
Não entendo,
e não me lembro de o mesmo se passar com qualquer outro político em 40 anos de
democracia.
Não conheço
a pessoa em causa e não me sinto obrigada a declarações além da que dá título a
este post.
Conheço
apenas o político e, nessa condição, penso que José Sócrates tomou boas e más
decisões, havendo uma grande diferença entre o seu primeiro e o seu segundo
mandato.
Porém,
também não me lembro de, em democracia, alguém sofrer tantos ataques políticos
e pessoais, ou duma perseguição tão sistemática, tão bem orquestrada e tão bem
dirigida.
Não foi
cabala, não, foi política pura, dura e suja.
Claro que
Sócrates cedo se pôs a jeito e tinha telhados de vidro.
O curso “mal”
tirado e as “casas” assinadas na Beira são coisas próprias dum pequeno trafulha
português; há-os aos montes, mas não se pode fazer parte da horda dos pequenos vigaristas
se se quer ser primeiro-ministro.
Vaidoso,
arrogante, teimoso e auto-suficiente, José Sócrates ousou bulir com os interesses
instalados, a começar pelos juízes e magistrados; e isso paga-se muito caro por
aqui.
Ouso dizer
que, mais cedo ou mais tarde, pode pagar-se com a cadeia.
E ouso
dizê-lo porque esse é o corolário lógico do sentimento que há muito me domina:
enquanto quase todos se apressam a dizer que confiam na justiça, eu por acaso
não confio. Mesmo nada!
Estou
convencida de que, daqui por vários anos, quando tudo isto acabar, estarei como
hoje − se me perguntarem se Sócrates é culpado ou inocente, embora eu possa ter
alguma convicção minha, honestamente, só poderei responder: Não sei!
Porque não acredito na Justiça portuguesa até que ela me dê provas de que posso acreditar, deixando
de ser essa coisa opaca, burocrática e discricionária que é hoje.
Aqui
chegados, quero saudar todos os amigos de Sócrates, quer os que já o visitaram,
quer os que o vierem a visitar na cadeia.
Sou
alentejana, de Évora (olha a coincidência). No resto do país, não sei, mas lá
no Alentejo diz-se que os verdadeiros amigos se conhecem na cadeia e no
hospital. Touché.
E agora,
venha o próximo escândalo. Depois de, em poucos meses, termos visto a queda do
BES, a ruína da PT, o escândalo dos vistos gold,
a prisão dum ex-primeiro-ministro, e de nos termos distraído dum Orçamento para
2015 que nos fará ainda mais pobres, começo a acreditar no Ulrich: o povo
aguenta.
Abençoado povo que
tudo aguenta.
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