quarta-feira, novembro 26, 2014

Declaração: sou de Évora e não acredito na Justiça portuguesa








 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desde há muito, quaisquer duas linhas de escrita sobre José Sócrates começam obrigatoriamente por uma declaração: não gosto de José Sócrates!
Às vezes acrescenta-se-lhe outra: e nunca votei nele!

Não entendo, e não me lembro de o mesmo se passar com qualquer outro político em 40 anos de democracia.
Não conheço a pessoa em causa e não me sinto obrigada a declarações além da que dá título a este post.

Conheço apenas o político e, nessa condição, penso que José Sócrates tomou boas e más decisões, havendo uma grande diferença entre o seu primeiro e o seu segundo mandato.

Porém, também não me lembro de, em democracia, alguém sofrer tantos ataques políticos e pessoais, ou duma perseguição tão sistemática, tão bem orquestrada e tão bem dirigida.

Não foi cabala, não, foi política pura, dura e suja.

Claro que Sócrates cedo se pôs a jeito e tinha telhados de vidro.

O curso “mal” tirado e as “casas” assinadas na Beira são coisas próprias dum pequeno trafulha português; há-os aos montes, mas não se pode fazer parte da horda dos pequenos vigaristas se se quer ser primeiro-ministro.

Vaidoso, arrogante, teimoso e auto-suficiente, José Sócrates ousou bulir com os interesses instalados, a começar pelos juízes e magistrados; e isso paga-se muito caro por aqui.

Ouso dizer que, mais cedo ou mais tarde, pode pagar-se com a cadeia.

E ouso dizê-lo porque esse é o corolário lógico do sentimento que há muito me domina: enquanto quase todos se apressam a dizer que confiam na justiça, eu por acaso não confio. Mesmo nada!

Estou convencida de que, daqui por vários anos, quando tudo isto acabar, estarei como hoje − se me perguntarem se Sócrates é culpado ou inocente, embora eu possa ter alguma convicção minha, honestamente, só poderei responder: Não sei!

Porque não acredito na Justiça portuguesa até que ela me dê provas de que posso acreditar, deixando de ser essa coisa opaca, burocrática e discricionária que é hoje.

Aqui chegados, quero saudar todos os amigos de Sócrates, quer os que já o visitaram, quer os que o vierem a visitar na cadeia.

Sou alentejana, de Évora (olha a coincidência). No resto do país, não sei, mas lá no Alentejo diz-se que os verdadeiros amigos se conhecem na cadeia e no hospital. Touché.

E agora, venha o próximo escândalo. Depois de, em poucos meses, termos visto a queda do BES, a ruína da PT, o escândalo dos vistos gold, a prisão dum ex-primeiro-ministro, e de nos termos distraído dum Orçamento para 2015 que nos fará ainda mais pobres, começo a acreditar no Ulrich: o povo aguenta.

Abençoado povo que tudo aguenta.

 

 

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