sexta-feira, julho 19, 2013

Eu desvinculo-me de; os outros, não sei


Já várias vezes escrevi neste blogue sobre o Acordo Ortográfico de 1990.
 
Em finais de 2011 fiz um honesto esforço para o começar a usar, em meados de 2012 desisti, e ganhei a firme convicção de que não voltaria a usá-lo.
O AO é, manifestamente, um acordo político que em nada ajuda à unificação do português; isto na eventualidade, não provada, de ele necessitar de ser unificado.
 
Circularam na internet várias petições contra a sua adopção, e assinei algumas.
Esta chega agora à Assembleia da República para ser discutida; justamente uma que não assinei.
 
O motivo por que não assinei prende-se com a estranheza que o título me provocou − Petição pela desvinculação de Portugal ao 'Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990' (AO90).
Sempre achei este português muito macarrónico mas, se era escrito por tanta gente com pedigree linguístico, o problema devia ser meu; passei, pois, adiante.
Ontem, quando me deparei com a notícia do Público e, de novo, com o nome da petição, voltei a sentir o incómodo já anteriormente experimentado.
 
Para mim, sempre foi simples: vinculo-me a e desvinculo-me de, mas desta vez resolvi tirar o assunto a limpo. Peguei no dicionário de verbos da Porto Editora, nada de especial, portanto, e na parte das regências encontrei na página 707
 - desvincular (-se) – de: desvinculou-se do contrato; desvinculou-se da sociedade.
Na página 756:
- vincular-se – a: vinculou-se ao clube desportivo; por: vinculou-se por escrito.
 
Assim, a petição, no meu entender, devia ter como título:
Petição pela desvinculação de Portugal do 'Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990' (AO90), ou Petição pela não vinculação de Portugal ao 'Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990' (AO90).
 
Se eu estiver enganada, corrijam-me, por favor.
É que não tenho pedigree linguístico, mas sempre me desvinculei de.
Agradecida.

7 comentários:

  1. Tanto quanto sei, foi uma opção estilística, que não deve de todo tirar o mérito à petição. Por favor, subscreva: http://www.peticaopublica.com/?pi=DPAO2013.

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  2. Curiosamente também senti a mesma dúvida, mas mesmo assim... assinei :)

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  3. Acima de tudo, o que importa é que já não escreve de acordo com o AO :)

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  4. O importante é saber se a Senhora concorda com o texto da Petição.

    Se concorda, peço-lhe que assine

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  5. Parece-me assaz fútil a sua razão para não assinar a dita petição, Maria de Jesus Lourinho. Permita-me que lhe pergunte: leu o texto da petição? Se o leu, concordou? Se concordou, pondera assinar? É que, mais importante do que a questão da regência verbal, é a necessidade imperiosa de travar a aplicação do AO90 e as suas muito deletárias (e já bem conspícuas)consequências.

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  6. Impressiona-me como assaz insuficiente o motivo conducente à sua não-assinatura da dita petição, Maria de Jesus Lourinho. Permita-me que lhe pergunte: 1. Leu o texto da petição? 2. Se leu, concordou com os termos? 3. Se não leu, pondera ler? 4. Caso venha a lê-lo e com ele concorde, ponderará assinar? É que, Maria de Jesus Lourinho, creio que mais importante do que a questão de regência verbal é a necessidade imperiosa de travar a aplicação do AO90 e os seus nefandos (e já bem conspícuos) efeitos na estabilidade ortográfica da língua portuguesa e na literacia dos Portugueses.

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  7. Respondo a todos porque me parece que todos vêm do mesmo sítio:
    Esta petição já não precisa da minha assinatura porque já chegou à AR, onde vai ser discutida, e era esse o objectivo.
    Pedro da Silva-Coelho, pegando nas suas palavras para classificar os meus motivos, devo dizer que considero assaz atrevido deixar que uma petição contra o AO seja escrita por quem não sabe escrever. Não queria dizer isto, nem o disse no post, mas o sr. obrigou-me.

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