quinta-feira, maio 09, 2013

Levai a Crato as criancinhas

Os nossos comentadores geralmente conotados com o pensamento de direita têm-se empenhado bastante em demonstrar que os exames do 4º ano são uma bênção para a educação que, Deus nos acuda, tem andado entregue a um bando de incompetentes de esquerda.

Se eu fiz eles também podem fazer.
Se ficam nervosos, habituem-se.
É este o discurso, que me parece pobre como justificação.
Se é certo que temos exagerado um bocado no experimentalismo educacional, é também certo que ele não tem impedido a aprendizagem; vejam-se os milhares de jovens licenciados que, recentemente emigrados, têm encontrado trabalho compatível com as suas habilitações em muitos países que lhes louvam a excelente formação, desfazendo, duma penada, os discursos do “não sabem nada” e do “ter um curso não adianta”.

Sou da geração que fez todos os exames, começando na 4ª classe e até ao fim dos estudos.

Esse exame, aos 10 anos, serviu-me para alguma coisa?
Sim, serviu para ter medo – medo do poder e medo de falhar.

Incutir medo logo cedinho era uma estratégia que muito convinha à ditadura, que o acompanhava como o “encornanço” acéfalo das matérias do livro único. Assim se começava a garantir um rebanho pacífico e acrítico com consequências colectivas que ainda hoje se fazem sentir.

Ir para a escola e aprender sem medo foi uma conquista de Abril, de que os meus filhos usufruíram.
Não fizeram exame no 4º ano mas não estudaram menos que eu, ao contrário, e nem sabem menos que eu, ao contrário também.

Mas, como diria a outra, isso agora não interessa nada; Crato tem a sua agenda própria e quer cumpri-la, ainda que ela nos faça retroceder meio século.
Se o deixarmos ficar lá muito mais tempo, talvez ainda o vejamos a ordenar o regresso do crucifixo e da reza matinal à sala de aula.

 

3 comentários:

  1. E a cantar o hino pela manhã com saudação à bandeira...O que me chateia ainda mais é que não há dinheiro e em vez de se investir em coisas que valham a pena, andamos nesta fantochada.
    ~CC~

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    1. Se os exames custaram 600 000 euros é porque há dinheiro, mas é para o que eles querem.

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  2. exactamente, mª jesus (post e sua resposta)

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