quinta-feira, maio 17, 2012

O touro e o gato

Há dias em que até o mais incréu dos incréus precisa de se convencer de qualquer coisa. A tão apressada visita do Hollande à Merkel provocou à minha volta comentários do tipo – vai ao beija-mão! servilismo!

Eu, em abstrusa fase de increia com fé, preferi pensar que senhor estava com pressa de dizer várias coisas à alemã, como por exemplo: que o eixo franco-alemão é importante mas que a capital da Europa é Bruxelas e não Berlim, que precisamos de mais democracia interna e que esta história de serem só dois a mandar está a deixar alguns povos europeus exasperados, que é preciso defender a Grécia “custe o que custar” antes que a Europa comece a apodrecer das bordas para o centro, que isto de castigar os que estão na mó de baixo já deu mau resultado se ela bem se lembra de Versalhes (será que estudou isso?), que precisamos de repor o modelo europeu e não importar o chinês etc. e, assim, decidi acreditar que ele não ia apenas ao beija-mão.

De facto, não sabemos o que se passou entre eles, mas imagino que tenham sido dois animais, com polimento civilizacional, a medirem-se um ao outro, dado que não se conheciam.
Sabemos que a Merkel é um touro (evito aqui o feminino por decoro) mas ainda não sabemos que animal será Hollande.

Contudo, no Público de ontem, cita-se uma jornalista francesa que escreveu:

“…Hollande parece-se como esses gatos (espertos e indecifráveis) que teimam em vir enroscar-se nos sofás proibidos. Impõe a sua vontade à força de insistência, de sorrisos e de obstinação.”

Que a assim seja, desde que a sua vontade seja uma boa vontade e ele não perca demasiado tempo com salamaleques; é que o touro, se puder, não perderá a oportunidade de lhe dar uma valente cornada.

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