quinta-feira, maio 05, 2011

Sr. Luís, sou eu outra vez!

Ainda não é desta que venho cortar o cabelo e até parece que só me lembro de cá vir quando não estou de acordo consigo. Não é verdade. Quando estou de acordo venho na mesma, mas não digo nada.
Permita-me discordar, ainda que só em parte, do imaculado perfil do ministro das finanças, Teixeira dos Santos, que traça no seu post de ontem.
Eu também acho que ele deve ser um bom homem e técnico competente mas a bondade, quando é em demasia, faz mal à saúde.
Acho que sim, foi um bom ministro enquanto o mundo não se espalhou ao comprido porque, quando tal aconteceu, ele espalhou-se também.
Dizem-me que a culpa foi de Sócrates, e eu acredito, mas também acho que há limites para a lealdade, sobretudo quando a lealdade a um só homem conduz directamente à deslealdade para com 10 milhões. Eu sei que não se entra e sai do governo como do McDonal’s, mas também me parece que nenhum primeiro-ministro pode, em qualquer momento, atar um seu ministro ao pé da ministerial cadeira contra a vontade deste.
Quando Teixeira dos Santos disse que, se os juros chegassem aos 7%, devíamos pedir ajuda externa e Sócrates decidiu o contrário, devia ter saído. A sua saída daria força e convicção às suas palavras. Não teria razão naquela hora, mas tê-la-ia mais tarde.
Sócrates achou que podia ficar na história com resistente e vencedor, Teixeira sabia que isso não era possível porque é um homem lúcido e inteligente. Sócrates não quis perceber que não manda nada e nada pode contra os mercados e agências de rating; Teixeira sabia tudo isso e daí eu não entender como tal homem se permitiu ser cúmplice no apodrecer da situação. Devia ter batido com a porta para derrubar de vez o estúpido e demagógico “ não será necessária a ajuda externa”.
A lealdade dum homem não pode sobrepor-se à sua consciência e a carranca posta ao lado do primeiro-ministro não chega, não é bonita nem delicada, nem o vai livrar de apreciações negativas durante muitos anos, coisa que, no seu conjunto, talvez não mereça.
É pena, é muita pena, porque como diria Flannery O’ Connor , “Um Bom Homem é Difícil de Encontrar”.
Vou indo, mestre barbeiro, com o habitual respeito e amizade. Da próxima vou ver se ainda tenho uns trocos para o cabelo.

1 comentário:

  1. É como diz, M.
    Um governante não é um cidadão comum (quero dizer, não desempenha o papel de um cidadão comum) e quando aceita fazer parte de um Governo tem de ser solidário com quem o convida. Imagine que sempre que houvesse discordância os ministros se demitiam...
    E também é como diz, mas ao contrário, quando sugere que o governante "Devia ter batido com a porta para derrubar de vez o estúpido e demagógico...", assim uma espécie de Campos e Cunha à procura de uns minutos de televisão.

    De resto estamos de acordo. Teixeira dos Santos foi um bom técnico (e um político insuficiente). Acrescento que o considero igualmente um homem digno. Estas características foram benéficas para os portugueses.
    Abraço e simpatia
    Luís
    (Aproveite que as tosquiadelas estão a preço de saldo)

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