segunda-feira, maio 30, 2011

"Sem Tecto Entre Ruínas"

Em 37 anos de democracia e de eleições, nunca me lembro de sentir uma tão grande aflição para decidir o meu voto.
Já vivi outras vindas do FMI, já vivi crises de toda a espécie, mas, honestamente, penso que os anos que se aproximam não se comparam com nada do que já conheci.
Nas outras crises com intervenção externa, o país tinha mecanismos de que hoje, por via do euro, não dispõe. Mesmo sem nada saber de economia, lembro-me das desvalorizações da moeda, da venda do ouro, da emissão de moeda pelo Banco de Portugal. Tudo isso hoje nos está vedado, restando um empréstimo externo concedido por alguém que não nos grama, tais as condições que exigiu.
Poderá pensar-se que ao próximo governo apenas lhe resta aplicar o plano dos prestamistas, mas não será exactamente assim. Ainda haverá coisas que podem ser decididas com mais ou menos sensatez, com mais ou menos liberalismo.
Daí, a enorme aflição que sinto quando olho para os dois putativos candidatos a primeiro-ministro.
Os erros de Sócrates são inúmeros e imensos; pior, o país não acredita nele, a toda a hora se brinca com as mentiras de Sócrates - do alto quadro empresarial à peixeira todos o acham um mentiroso. Pode um homem nesta situação continuar a governar o país? Não merece ser fortemente castigado nas urnas? Pode governar o país nos tempos difíceis que estão a chegar? Pode o povo português reconduzi-lo como quem diz “faça favor de continuar, nós tudo esquecemos e perdoamos”?  Podemos, se tal acontecer, considerar que vivemos numa democracia adulta e viável?
Quanto a Passos Coelho não há palavras para descrever o que temos visto e ouvido nos últimos tempos. Pode um homem que já disse mil coisas e seu contrário (tal e qual como Sócrates) merecer-nos alguma credibilidade? Pode um homem que está na política desde a pré-primária, como já aqui escrevi, estar tão impreparado para ser governante? Que andou ele a fazer desde que tomou posse do cargo? A pensar no país certamente que não foi porque cada dia tem uma ideia e um discurso diferente. Mente, sorri, diz e desdiz, ouve todos os conselheiros dos quais devia fugir, quer apanhar votos de todos os lados e fica “nem pão, nem bolo”. Em 3 dias disse sobre o aborto o contrário do que costumava dizer e quanto aos 10 ministros apenas, assim que Cavaco disse que era pouco apressou-se a remendar o que antes tinha dito. Isto para só falar dos últimos dias. Quem é este homem, alguém sabe? Mas, pode um homem assim merecer a confiança do país para governar? Não nos sairá outro Sócrates apenas ainda mais liberal?  Pelo menos quanto ao carácter, parece que estão empatados, mesmo sem sondagem. 
Os partidos à esquerda do PS também se acomodaram no facilitismo, limitando-se vezes de mais a ser apenas do contra, e a dar uns tirinhos no pé de vez em quando. Se eles congregam 20% dos eleitores, precisam de saber quem são, o que sentem, e parar com o infantil “quanto pior, melhor” que já fez escola mas já não faz.
Roubando o título de um livro de Augusto Abelaira, sinto-me “Sem tecto, entre ruínas”.
Pior, sinto-me também sem chão.

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