Nas décadas
de 1960 e princípio de 1970 do século passado, entre as várias actividades que
arranjou para aumentar o ordenado, o meu pai foi correspondente, em Évora, do
jornal “A Bola”.
Ao tempo,
este era o mais respeitado jornal desportivo, sendo igualmente conhecido e
reconhecido pelo seu engajamento contra a ditadura; publicava-se, salvo erro,
três vezes por semana, e era recebido gratuitamente lá em casa.
Lá mais para
o fim dos anos desta colaboração, meu pai sentiu-se orgulhoso e honrado por,
certa vez, ter sido convidado a escrever uma coluna que, usualmente, ia rodando
pelos jornalistas da redacção e que se chamava “Hoje jogo eu”.
Se bem me
lembro, não escreveu sobre futebol, antes escolheu escrever sobre as qualidades
humanas de um jogador do Lusitano de Évora.
Eu, no seu
lugar, julgo que faria uma escolha semelhante – teria dito não ao pontapé na
bola, que até pode ser artístico mas não me prende (ao contrário do que
acontecia com o meu pai), e sim à parte boa, e tão profundamente humana, do que
o futebol também é.
Neste, como
nos outros campeonatos, o que gosto de ver é o que está antes e, se for uma
final, o que está depois, isto é, a festa.
Gosto de ver
as bancadas coloridas e ruidosas, gosto daquela megafesta de caras pintadas, cachecóis,
bandeiras, cabeleiras e camisolas, gosto de ver os jogadores das duas equipas, ainda
no túnel, aos abraços a companheiros de trabalho diário que, dentro de minutos,
serão seus adversários, gosto de ver os seus saltinhos espanta-nervos, gosto da
visível tensão que se lhes acumula por baixo da pele, gosto da entrada das
bandeiras e das equipas, gosto dos hinos e de ver as pessoas a cantá-los, gosto
do sentimento de pertença que nesse momento exibem, gosto de toda aquela
sobrecarga energética. Gosto!
Este ano, gosto
também de ver a determinação de brasileiros e chilenos (não sei se haverá mais),
em enviar um belo manguito à FIFA enquanto cantam os seus hinos por inteiro,
mesmo já sem música, porque inteira é a sua presença ali, plena de autoestima,
orgulho e emoção, características de jovens países ainda capazes de todas as
rebeldias.
Se procuro
que nada do que é humano me seja estranho,
facilmente reconheço que à volta destes grandes encontros futebolísticos há
tanto de admirável como de venal, como em quase tudo na vida.
“Hoje jogo eu”, e até 13 de Julho. Sempre do lado da festa.
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