segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Quem não quer ser lobo...


Duas notícias da semana passada:

“O senhor Armando Vara entrou aí como qualquer utente e passou à frente de toda a gente. Entrou no gabinete da médica sem avisar e sem que a médica percebesse que não estava na sua vez. Foi uma situação de abuso absolutamente inconfundível”. Declarações da directora do centro de saúde de Alvalade, Manuela Peleteiro

O INEM assistia de emergência uma idosa com suspeitas de estar a sofrer um enfarte no interior sua casa, na Rua da Quintinha, enquanto a ambulância aguardava para a transportar ao hospital. Como é norma o veículo fica ligado a assinalar a urgência enquanto os técnicos do INEM socorrem a vítima.
Enquanto a idosa era assistida, um elemento da PSP, que faz a segurança do ministro Alberto Martins, ordenou que a ambulância fosse retirada do local para o carro do ministro, que mora perto, passar. A viatura ao serviço de Alberto Martins ia buscar o ministro a casa.

O caminho que a governação tomou nos últimos tempos deixou o país zangado, com um profundo sentimento de injustiça e uma enorme desesperança. Além disso, os portugueses já perceberam que o trabalho político é bastante sujo, ou melhor dizendo, que os políticos sujam bastante o seu trabalho.
Neste contexto, as pequenas tropelias, com as acima contadas, ajudam, e muito, a minar ainda mais o clima e a opinião que as pessoas, em geral, têm da classe.
Na internet, como na mercearia da esquina, o que se diz é cada vez mais demolidor e até já corre por aí um panfleto digital a pedir um milhão na avenida contra os políticos, indiscriminadamente.
Ora, sem políticos não há democracia, mas uma boa parte dos portugueses não entende isto, e até talvez ache que não é importante – nem a democracia nem os políticos. As pessoas estão sedentas de alguma demonstração de decência por parte de quem as governa e, na sua ausência, e com a vida cada vez mais difícil, aumentam a sua sanha contra os chamados “ricos e poderosos” entre os quais incluem os políticos.
Quem entende que os políticos são peças fundamentais da democracia não deve ficar calado nem deixar que o desespero e o ódio primário se apoderem da opinião pública, porque o clima que actualmente vigora é demasiado perigoso para o regime.
Mas, convenhamos, fica cada vez mais difícil defender, em abstrato, uma classe que, em concreto, faz tudo para ficar indefensável.

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