terça-feira, maio 29, 2012

O pior de nós

Por estes dias, um dos homens que mais vezes cruza o ecrã da minha televisão é o ex-espião Jorge Silva Carvalho.

Corpo avantajado e passada a condizer, coberto de fato completo “sem pregas no peito nem rugas no colarinho”, ele passa e olha fugazmente a câmara. Não sorri, mas também não está sério, antes dá um ar de homem sem angústias existenciais e senhor do seu (muito pequeno) mundo que, no entanto, parece entender como o mundo todo.

Quando ele olha a câmara de relance, aquele olhar faz tocar as minhas campainhas que alertam para “perigo”.

Ao longo dos seus 46 anos de vida, patita aqui patita ali, foi trepando na hierarquia do poder até se instalar no lugar que achou confortável – o lugar de toda a informação, que pode ser dada ou vendida, conforme a ocasião e o objectivo a alcançar.
Sem a menor noção do valor do Estado numa sociedade democrática, frio e calculista, exercitou a conjugação reflexa do verbo servir enquanto pôde, e o mais que pôde.

Não esteve, certamente, sozinho; usufruiu de muitas cumplicidades por parte daqueles que também almejavam o seu quinhão de poder e dinheiro num país minado por espertalhaços que medraram nas berças e desembarcaram na capital.

Ambicioso, venal, sem escrúpulos, este espião que veio do quente (Moçambique), e também gosta de usar avental maçónico, personifica exemplarmente o que de pior há em nós.


1 comentário:

  1. Fizeste uma descrição perfeita desse vermezito que "usou" o lugar que lhe destinaram!

    ResponderEliminar