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quinta-feira, janeiro 30, 2014

A velhice é lixada (com f…)















 
 
 
 
Quando acabei de ler este artigo de Mário Soares no Diário de Notícias fiquei, assim, como dizer… envergonhada.
Nunca fui socialista e, muito menos, soarista, mas, caramba, Soares foi Primeiro-ministro e Presidente da República; não é pai da democracia, longe disso, mas é uma das suas referências.

Fica-se triste quando é tão evidente o declínio dum homem. E ainda mais quando a direita trauliteira está com as garras de fora.

O citado artigo, todo ele construído numa escrita demasiado pobre, quase infantil, não é mais que uma amálgama de lugares-comuns, vacuidades, slogans mal alinhavados, populismo básico, falta de pensamento político e até de incompreensíveis “esquecimentos”.

Dizer que o governo está paralisado é mera escrita automática, e escrever que no tempo de Salazar, na província, as crianças andavam descalças mas não passavam fome só se pode deixar passar se acreditarmos que o velhinho está senil; e eu acredito.

Assim sendo, tenho pena que ninguém “tome conta dele”, e o impeça de continuar a escrever estas pobres e patetas redacções, servidas gratuitamente a quem lhe guarda rancor há quarenta anos.

Suspeito que família e amigos talvez tentem, mas também suspeito que a soberba de Mário Soares só a tumba a levará.

Mesmo assim, não gosto de assistir à queda dum homem.
De nenhum homem.
A velhice é f*#%&@!

quinta-feira, janeiro 03, 2013

Sair a uivar

Fui ver o filme “Amor” no 1ºdia do ano.
Tinha saudades do Trintignant, e o filme está a ser muito aplaudido.

Devia ter ficado com ciática dez minutos antes de sair de casa.

Resumindo, pode dizer-se que o filme é bom, mas também o achei voyeur e às vezes sádico.
O realizador mete-se (nos) em casa dum casal de idosos (donde não mais saímos) e faz-nos assistir ao colapso dela e à sua lenta perda de capacidades, humanidade e dignidade; simultaneamente, Georges passa de marido a devotado cuidador.

Uma história de todos os dias, multiplicada por milhões, fruto da longevidade característica da época contemporânea.
Ouso dizer que o filme de Haneke é neo-realista, o que não é aqui um elogio.
Sim, eu já vi aquilo, e bem próximo, não preciso que me expliquem, nem que mo mostrem, nem que me aticem um medo que, hoje, é de todos.

Por isso, quando saí, só me apetecia uivar.
 
Uivar curto e longo, agudo e grave, angustiado e enfurecido.
Um uivo de tristeza (pela morte) de terror (pelo futuro), de raiva (pelo presente), de dor (pela humanidade), de irritação (com quem se apropria da indignidade da velhice e ainda consegue fazer disso uma obra de arte).
Não invento − eu só queria uivar. E ainda quero.