Não posso
negar que a visão de Varoufakis na varanda foi, para mim, o equivalente a um
murro no estômago.
Nas redes
sociais, a esquerda, maioritariamente, remeteu-se a um silêncio de sepulcro. Alguns,
poucos, trataram de usar a velha argumentação – um marxista não precisa de ser
pobre, um marxista pode ser um bon vivant,
um marxista pode gostar, e comprar, as coisas boas e caras da vida.
Por mim,
acrescento ainda que um marxista do século XXI tem também direito a gostar de
reportagens pirosas, a ter os seus dez minutos de fama, a fazer o seu marketing
pessoal (e o da sua mulher), a ser vaidoso e a fazer parvoíces.
São direitos
inalienáveis das pessoas, de esquerda ou de direita, mas, neste caso, e como
argumento de defesa, acho fraquito. E faz sorrir.
Olho aquelas
foleiríssimas imagens e pergunto-me: se Varoufakis decidisse viver como um
franciscano isso adiantava alguma coisa aos gregos e à Europa?
Não! Nada, nadinha!
Exibir uma
vida boa numa reportagem fútil e pirosa faz mal aos gregos à Europa?
Neste
momento histórico, faz!
Não porque
ele não tenha direito a uma vida boa, mas porque passa uma mensagem de futilidade
e falta de concentração que em nada contribui para aumentar a credibilidade do
ministro. Nem fomenta o respeito dos adversários com quem está a ter duras
negociações sobre o futuro do seu país.
As nuvens
adensam-se. Não vou negar que já achei esdrúxula a ideia de pôr estudantes,
donas de casa e turistas a fazer de fiscais das finanças mas, ainda assim, dei
o benefício da dúvida. Esta rosada reportagem, porém, foi como levar com um inopinado
par de cornos.
Além do mais,
almocinhos na varanda com brinde para a fotografia da revista sempre foram alvo
de chacota e desprezo por parte da esquerda.
Doeu. E fez
medo. Entre outros, fez nascer o medo de que Varoufakis seja apenas mais um flop em vez de ser, finalmente, alguém
de quem nos possamos orgulhar.
Neste
episódio, a maioria calou-se, alguns optaram por dizer que o fato do rei é
lindo e que ele tem todo o direito de usar o que lhe apetecer.
A mim,
porém, parece-me apenas que o rei vai nu.
PS: acabo de
ler aqui que Varoufakis já se arrependeu de ter feito a reportagem. Uma boa
lição para os seus defensores lusos.