Tempos houve em que os intelectuais eram interventivos em
termos políticos e sociais, sendo não apenas respeitados mas considerados
elementos fundamentais duma sociedade livre, progressiva e culta.
Nas últimas décadas, o paradigma mudou, e os intelectuais foram-se,
aos poucos, resguardando nos seus gabinetes de universidade, a ponto de quase
não darmos por eles no nosso quotidiano.
Simultaneamente, a cultura rasca da mediocridade foi invadindo
toda a sociedade, qual selva tropical depois do aguaceiro.
Chegámos então ao ponto de os intelectuais passarem a ser
apelidados de “bem-pensantes”, com o todo o desdém invejoso e alarve que o termo
comporta.
Do que tenho conseguido perceber, os “bem-pensantes” são um
grupo altamente minoritário, que se dedica sobretudo às diversas áreas
culturais; sobre elas aprofundaram estudos e reflexões, capazes de lhes
permitirem um olhar crítico que lhes advém da capacidade de interligarem
conhecimentos.
É natural que estas pessoas tenham gostos diferentes das
chamadas “massas”, mas é prudente que não os expressem, sob pena de verem
agrafado no seu traseiro o rótulo de “bem-pensante”, ou seja, extravagante,
convencido, snobe e, em última análise, perigoso.
É assim que é visto o intelectual no terceiro milénio; não
admira que fuja – a sanha das massas embrutecidas assusta mesmo.
Felizmente para eles, as massas andam entretidas a colocar
nos tops de vendas todas as possíveis
sombras da Grey bem como o vibrante “Basta” de Camilo Lourenço; por isso
nem repararam na notícia - “Grupo de intelectuais pede união para evitar morte da Europa”, entre os quais se inclui o escritor português António Lobo Antunes,
e poucos dão pela falta da coluna de António Guerreiro no Expresso.
Afinal, são apenas “bem-pensantes”. Pfff.