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segunda-feira, outubro 10, 2011

Uma mulher no seu labirinto

Declaração primeira: sou fascinada por gadgets.
Declaração segunda: não tenho nenhum.
Declaração terceira: sou ambivalente em relação a Steve Jobs.
Pela blogosfera, Facebook e jornais, tenho lido belas e tocantes homenagens a Jobs após a sua morte. Reconheço o seu génio criativo, fascino-me com os seus iqualquercoisa (gosto de todos) mas não me consigo desligar do outro lado de ver.
Já aqui escrevi sobre uma parte do outro lado; contudo, o pior mesmo, é que eu acho que ele encarnava a essência do capitalismo nonsense em que alegremente nos enredámos.
O que esse capitalismo sabe fazer de melhor para sobreviver, é criar em nós necessidades que nem sabíamos que tínhamos; inventa constantemente, manda fabricar a custo irrisório – pagando o mínimo a quem, em desespero de causa, faz qualquer coisa para sobreviver, e vende depois a preços tentadores.
Para nosso deleite, existem batalhões de escravos, meninas de dedos fininhos mas já quase cegas por trabalharem em tudo o que é micro, lixo e mais lixo no planeta. Em boa verdade, por mais voltas que dê, continuo a achar que não precisamos da maioria dos iqualquercoisa para nada. Eles apenas nos fazem felizes.
Sem deixar de reconhecer o génio inventivo de Steve Jobs, creio que, ao contrário de muitos outros, não trouxe um extraordinário benefício para a humanidade; trouxe, maioritariamente, felicidade efémera para a parte rica do planeta onde se transformou num ícone. Será isso despiciendo? Não dirá isso tudo sobre nós?
Um dia decidirei se vou continuar eternamente às voltas no labirinto ou se opto pela velha lapalissada – as coisas são como são.
Há ainda uma terceira hipótese: se o Steve for bem sucedido no seu projecto iGod, quem sabe se eu, finalmente, não serei tocada pelos dois – Steve and God.
 

quinta-feira, setembro 08, 2011

Realidade melhor que ficção

Sabia-se que Steve Jobs tinha sido adoptado, mas agora que a sua vida parece estar a chegar ao fim apareceu o seu pai biológico a contar uma rocambolesca história de amores contrariados que se pode ler aqui.
Menos conhecida será a história do premiado escritor inglês Ian McEwan, e da sua descoberta da existência dum irmão mais velho, que veio contada em várias publicações e que se pode ler, por exemplo, aqui.

A mãe de McEwan, Rose, engravidou de um oficial do exército britânico, David McEwan, enquanto seu marido estava distante, em combate na Segunda Guerra Mundial. Desesperada para se livrar da prova do adultério, ela decidiu entregar o bebé para adopção.

O marido da mãe de McEwan foi morto na guerra, e ela então casou-se com o seu amante. Até à morte, nunca revelou que tinha tido outro filho. Só a sua irmã partilhava o segredo e foi ela quem narrou os factos ao sobrinho que tinha conhecido apenas como recém-nascido.
Em Junho de 1948 o casal teve outro filho, Ian.
Ian estudou em boas escolas e é um escritor de sucesso. David é pedreiro e nunca conheceu os pais biológicos.
Se lêssemos estas histórias num livro, na melhor das hipóteses diríamos que faziam chorar as pedrinhas da calçada, mas o facto é que a realidade sempre excede a ficção.

terça-feira, agosto 30, 2011

Dear Steve e companhia

Eu sei que isto não interessa nada aos fervorosos adeptos de Steve Jobs e dos seus brinquedos, mas interessa-me a mim e, agora que tanto se falou dele, também eu quero lembrar algumas coisas.
É fácil fascinarmo-nos com os itudo (iPod, iPad, iPhone), mas convém não esquecer o que está por detrás deles e, lamentavelmente, não é só a criatividade do dear Steve. Se os podemos comprar relativamente baratos, dada a quantidade de habilidades que fazem, e assim encher os bolsos do Jobs e companhia, é porque centenas de milhar de chineses são escravizados nas fábricas da Foxconn.
Esta fábrica nasceu em Taiwan e é hoje a maior fabricante mundial de componentes electrónicos. Instalou-se na China em 1988 na cidade de Shenzhen. A 30 minutos desta cidade situa-se o grande complexo da fábrica onde trabalham 300 000 pessoas; não só trabalham mas também vivem, porque a fábrica oferece alojamento e outras “mordomias” como piscinas, por exemplo, que ninguém consegue usar porque é frequente cada operário ter um horário semanal de 80 horas. No ano passado, mais de uma dezena de jovens operários suicidaram-se e muitos outros o tentaram. As condições de trabalho nessas 80 horas são desumanas e de tal modo repetitivas que me fazem lembrar, segundo as descrições, os “Tempos Modernos” de Chaplin – não se consegue parar a mão quando se sai do trabalho.
Em consequência da onda de suicídios, foi ponderada a diminuição do número de horas de trabalho e um aumento do salário que, em média, é de 90 dólares por mês.
Claro que a Apple não é a única cliente, tem boas companheiras na HP e Sony, por exemplo.
Quando nos divertimos com os nossos brinquedos inventados pelo Steve e simultaneamente nos queixamos da vida, seria bom que nos lembrássemos que ainda vivemos na melhor parte do mundo mas que, se não tomarmos conta dela, há por aí muita gente com vontade de a transformar numa imensa China.
Ou talvez nem cheguemos a isso, visto que o multimilionário chinês dono da fábrica, planeia, nos próximos três anos, para reduzir custos com os trabalhadores, substituí-los por um milhão de robôs.