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sexta-feira, janeiro 24, 2014

Os meus sismos


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Onde é que você estava na noite de 28 de Fevereiro de 1969?
 
Na minha geração, toda a gente tem resposta para esta pergunta se se lembrar que foi nessa noite que ocorreu o último grande sismo registado em Portugal.

Eu dormia na minha cama de adolescente que, por acaso, estava encostada à parede. Acordei com a parede a abanar mesmo junto à minha cabeça.

Quando percebi o que se passava, e durante aqueles segundos que sempre parecem horas, comecei por sentir a necessidade de fazer alguma coisa, logo depois uma urgência de fazer alguma coisa mas, faltando a electricidade, o corpo acabou por ficar quieto, esperando que a parede lhe caísse em cima, ainda que com uma remota esperança de que tal não viesse a acontecer.

Não aconteceu, mas nessa noite perdi um pouco a inocência, porque percebi a minha vulnerabilidade e a dos que, ao tempo, eram todo o meu suporte de vida.

E a que propósito vem isto?

Vem porque, frequentemente, dou comigo a encontrar semelhanças entre essa já longínqua noite e esta noite em que sinto que entrei há cerca de três anos.

Desta vez não estava a dormir, e cedo comecei a ouvir o ronco da besta.
Cedo surgiu, também, a necessidade de fazer alguma coisa, que se foi transformando, de novo, num sentimento de urgência – era preciso pará-los antes que a devastação fosse irreparável.

Com o tempo, percebi que não havia ninguém para travar o desastre, e voltei a ficar quieta, assistindo, todos os dias, à destruição da minha “casa”, pedra por pedra, meticulosamente.
Ensino público, Serviço Nacional de Saúde, Segurança Social e apoios sociais, Ciência, tudo vai caindo sob o efeito dum sismo político de magnitude pornográfica.

Tal como na noite do sismo de 1969, acabei simplesmente à espera que passe, desejando que dos destroços alguma coisa ainda se possa salvar. Sendo que nada é certo – nem que acabe, nem que haja salvados.

Certa, apenas a enorme vulnerabilidade do meu país às mãos dos mercados sem rosto, dos políticos sem ética, e dum povo sem ânimo – “o melhor povo do mundo”
Se isto não é um sismo…