Neste país não se pode nem falar, nem estar calado.
Ricardo
Araújo Pereira decidiu apoiar publicamente o partido Livre nas eleições
europeias, e pronto, grossa fatia do país de esquerda está desiludida.
E a que se
deverá tal desilusão?
Talvez todos
tivessem esperança que ele fosse “dos nossos” visto que, como se sabe, para a
esquerda portuguesa, quem não é por nós, é contra nós. E não se deve rir com o
inimigo.
Por mim,
vejo “o caso” assim:
- RAP
pertence a uma geração pouco engajada com a política, muito desconfiada dos
políticos e que encara a abstenção como um modo válido de lhes “falar”.Se a decisão de se assumir como apoiante de um partido ajudar a aumentar o número de votantes da sua faixa etária, tanto melhor: terá prestado um serviço à nossa comatosa democracia.
- As razões
que RAP invoca para votar LIVRE são tão válidas como as que eu invoco para não
votar LIVRE. É a democracia, pá!
- O facto de
ser uma figura pública muito popular não lhe retira nenhum dos seus direitos
cívicos constitucionalmente garantidos.
- RAP é
corajoso; podia estar quieto, mas resolveu sair da “sua zona de conforto”, dar
o peito às críticas, à inveja, às “desilusões”.
Qual será,
então, o problema?
O problema −
e como eu lamento dizer estas coisas! − deve
ter que ver com fanatismo e intolerância, doenças que atacam uma esquerda
cansada, que não se move um milímetro ano após ano, que parte para cada novo
acto eleitoral a ver se perde por poucos.
Ricardo
Araújo Pereira, com a sua decisão, veio mostrar que, entre muitas outras
qualidades, não só não foi contagiado pelas ditas doenças como até tem uma “saúde”
de ferro.
Como de
costume, o bem de uns é o mal de outros, e a “saúde” de RAP acaba a provocar
dores em muito boa gente. No cotovelo, claro.