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terça-feira, novembro 06, 2012

O pide, o preso e o barqueiro

Quando ouvi Passos Coelho dizer que ia refundar o Estado e que tinha mandado uma carta ao Seguro a convidá-lo para participar no trabalhinho, lembrei-me duma história que me contaram há muitos anos.

Um preso político, mesmo sujeito a todos os “mimos” que a pide conseguia dispensar, nunca, sequer, abriu a boca. Os pides, em desespero, resolveram mudar de estratégia e mandaram um outro de falas mansas que, com muito jeitinho, tentou convencer o preso da bondade de colaborar.
Este, ouviu-o calmamente e resolveu falar, o que muito animou o pide.

Contou, então, uma história:

“Havia um pobre homem, que vivia numa aldeia à beira do mediterrâneo, cujo trabalho era transportar figos, no seu pequeno barco, entre várias povoações vizinhas. Num dia de inverno, o mar apresentou-se tão calmo e convidativo que ele resolveu carregar o barco e ir fazer o seu trabalho. A meio da viagem, gerou-se uma tempestade que levou o barco, os figos e quase o levou a ele. No inverno seguinte, surgiu um dia exactamente igual ao anterior. O homem sentou-se, olhou para o mar e disse:

Ah, meu grande filho da p***, eu sei bem o que tu queres − o que tu queres, é figos.”

É fácil adivinhar o que se seguiu entre o pide “manso” e o preso mas, se eu fosse o Seguro (cruzes, credo) era com esta história que teria respondido à cartinha, e não com aquele relambório que publicou no facebook.

Ainda bem que não estou na política. O país corria o risco de a ver ainda mais debochada do que ela já está.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

As nossas desculpas, Sr ª Merkel

Parece que é nos próximos dias que os do costume vão “refundar” a Europa e o euro. Se não resolverem adiar, como também é de costume, diz-se que o caminho da refundação já está mais ou menos traçado – mais austeridade, mais chibatadas nos malcomportados, policiamento atento desses “marginais” e castigo exemplar se pisarem o risco novamente.

A Merkel diz: estas são as minhas regras e quem não quiser pode ir morrer longe.
Eu não quero ir morrer longe, preferia morrer por aqui mesmo, e até gosto da Europa e de ser europeia. Por isso, antes que eles comecem a distribuir chibatadas, e na esperança de atenuar o castigo, quero pedir desculpa à senhora Merkel.

São muitas as faltas, eu sei, mas quero pedir desculpa, em nome de toda a classe média portuguesa, por nos últimos trinta anos termos comprado carro com o mesmo entusiasmo com que os americanos compraram o seu Ford T no princípio do século XX; por acharmos que tinhamos que morar em algum lado e termos comprado um T2 nos subúrbios com uma mensalidade que até era menor que qualquer arrendamento; por termos aceitado as “prendas” que o banco juntava à casa; por termos comprado mais uma televisão para a cozinha; por termos comprado dois pares de botas para o inverno, em vez de um só; por termos provado sushi e muffins; por termos ido tratar os dentes no dentista privado; por termos comprado vacinas “supérfluas” para as nossas crianças; por termos experimentado andar de avião para gozo de oito dias de férias na Tunísia; por termos ligado mais aquecedores em dias muito frios; por termos comprado aulas de música, ou de arte ou de informática ou de inglês para os nossos filhos; por gostarmos de ir à Fnac e, de vez em quando, cairmos na tentação de comprar um livro ou um CD; por em 2010 termos ido ao teatro para lá de 1 milhão e oitocentas mil vezes.

Por tudo isto, e mais umas quantas parvoíces que fizemos, peço desculpa.
Disseram-nos que éramos europeus e quisemos saber como era isso. Foi um erro, está visto, gastámos demais e vamos voltar a ser pobrezinhos mas honrados como o Dr. Salazar gostava.

Também nos disseram que “…a Europa foi construída com base na solidariedade e não da submissão dos fracos aos poderosos”. (editorial do Expresso de 3 de Dezembro), e nós acreditámos, tontos que somos.
Pedimos desculpa, senhora Merkel, mas pode ter a certeza que o fazemos com “uma raiva a nascer nos dentes”.
E isso, não sei porquê, não me parece um bom sinal; nem para si, nem para nós.