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sexta-feira, janeiro 16, 2015

Sinais do tempo que passa


 
Ainda eu era bem menina quando surgiu na televisão o primeiro anúncio aos pensos higiénicos.

Meu pai, comunista e conservador − e não há nisto qualquer contradição, como é sabido − não gostou nada que lhe invadissem a sala com as intimidades da carne feminina.

E, no entanto, aquilo era apenas um pudico começo.

Já a alma, (chamemos-lhe assim para facilidade de entendimento), e se bem me lembro, precisou de mais tempo para despedir o pudor, abrir os seus mais remotos recantos ao público em geral e transformar-se, como o corpo, em objecto de marketing pessoal.

Porém, aconteceu; e falar hoje de intimidade ou recato de qualquer espécie é quase um anacronismo. Tudo é público e partilhável.

As redes sociais, entretanto massificadas, fornecem excelente palco a todos os “marketeiros”, dando os mais novos primazia ao marketing da carne, enquanto os mais maduros, por vontade ou, talvez, por necessidade, se dedicam, preferencialmente, ao da alma.

Escrever sobre pai, mãe, amantes, amores, desamores, paixões, gostos, depressões, êxtases, habilidades, capacidades e outras façanhas, rende.

Se for bem escrito, e se na escrita se perceber um intelecto cultivado, um gosto requintado e uma vida acima das possibilidades de quem lê, melhor.

Acontece-me, porém, e tenho que o reconhecer, que quando diariamente assisto ao descontraído striptease da alma, com nu integral e sem ponta de constrangimento, relembro, e, pior, experimento, o paterno incómodo que, há muitos anos e por culpa exclusiva do penso higiénico, tomou de assalto a paternal sala.
 
Sinais do tempo que passa.

Imagem: Jean-Luc Godard, 1960, "À bout de souffle"

quarta-feira, dezembro 17, 2014

A dois tempos















 
 
 
 
 
 
A imagem acima, colhida ao acaso, pertence a um primeiro tempo.

Nele, os portugueses usam as redes sociais para postar gatinhos, bebés, paisagens de sonho, arquitectura ora de sonho ora de pesadelo, anjinhos papudos e, sobretudo, “frases inspiradoras” de “pessoas inspiradoras” - Osho, Buda, Dalai Lama, Brian Weiss, Gandhi, Paulo Coelho, e autores desconhecidos dos quais a Chiado Editora tem um armazém cheio.

São pessoas que dizem coisas lindas sobre os enganos em que andamos enredados, a beleza da vida simples, as virtudes da clareza duma mente limpa, o desapego, e a importância do amor ao próximo; sobretudo isso, a importância do amor ao próximo.

Talvez por artes dum qualquer génio do mal, que também anda à solta nas redes sociais, esses mesmos portugueses, tão inspirados por seres inspiradores, num segundo tempo, mal se escreve a palavra “Sócrates”, dedicam-se ao comentário:

 
Qual preso, qual quê, já devia era estar morto. Morto? Devia estar a arder no inferno? No inferno? Nunca devia era ter nascido.

Não se sabe? É claro que sabe! Corrupto! Ladrão! Crápula!

Qual direito a defender-se, qual carapuça! Não tem direito a nada, nem sequer ao ar que respira! Na masmorra, na masmorra é que devia estar e para sempre. E ainda digo mais – tudo o que ele tem devia ser confiscado.

Inocente? Você está mas é maluca, sua socratista de me$&@!

“Senhor, abençoa nossa semana e abra nossos corações para o amor e a caridade”.

quinta-feira, julho 31, 2014

Olhando à volta











 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encontrei e roubei esta imagem a um amigo do facebook porque, basicamente, com ela me identifiquei no que se refere à nova guerra israelo-palestiniana.

Este é um conflito mais velho do que eu, cresci com ele e envelheço com ele.

Novidades em 2014:

É a primeira vez que o acompanho nas redes sociais, e também não me lembro de alguma vez ter sentido tanto a sua dureza.

Os níveis de violência que chegam até nós são inauditos.

Vejo as notícias e dizem-me que 90% dos israelitas querem continuar a guerra até ao fim (não quero, sequer, imaginar o que entenderão eles por “até ao fim”); o Hamas, por seu lado, espumando da boca, nem aceita tréguas humanitárias para socorrer a sua gente.

Tento perceber o que será viver encurralado, sem lugar para onde fugir, e com as bombas a caírem em cima da minha família. É horror a mais.

Se é óbvio que ambos os povos têm lideranças que não os merecem (coisa que não acontece só a nós), isso também não me impede de ver a enorme desproporção de forças, o inenarrável sofrimento dum povo comparado com a normalidade tranquila do outro (também vi isso na mesma reportagem da televisão.)

A grande novidade em 2014 são as redes sociais, que tudo ampliam.

Por lá vejo gente histérica em defesa dos palestinianos, publicando imagens de todos os horrores sem saberem de onde realmente provêm, mas também gente a dizer-se não-alinhada, equidistante, que se entretém a tecer considerações sobre os “alinhados” com a Palestina −  em geral gente apalermada, incapaz de pensar, de seleccionar informação ou de decidir por si, segundo os seus doutos critérios.

O ruído provocado pelos primeiros não ajuda à ponderação, é certo, e também em nada ajuda a Palestina.

Aos segundos, fleumáticos sempre dispostos a insultar a inteligência dos outros, começo a dedicar muito desinteresse e pouca consideração; a estes, acabo por preferir um terceiro tipo − os assumidamente pró-Israel, opção que me parece mais limpa e corajosa. Mas o ruído de todos é infernal.

Quanto ao conflito, esse já acredito que perdurará para além de mim, com cortejos de horrores que doem cada vez mais.

 

quinta-feira, abril 03, 2014

Bateu com a cabeça


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não, não e não. Apesar do assunto destes dias ser, de novo, a Jonet, eu recuso-me a falar da criatura.

Acho de mau gosto andar a atacar alguém que é doente.

Digo isto porque acredito piamente que, algures durante a sua vida, a senhora bateu com a cabeça e fez uma daquelas lesões cerebrais em que o doente perde o filtro social e diz tudo o que lhe vem à cabeça.

Por exemplo, imagine-se alguém que vai ao Banco Alimentar buscar o que lhe faz falta, chega lá e diz:
- Venho buscar o cabaz, mas antes quero dizer-lhe, D. Isabel, que a senhora é feia, má e cheira mal dos sovacos. Agora dê-me lá o cabaz que tenho mais que fazer.

Ora, uma coisa assim é muito desagradável, mas teria que se desculpar e pensar: é a doença.
Pois é exactamente isso que eu penso da D. Isabel Jonet – que é doente.

E por isso disse, e reafirmo: não falo dela, mas enquanto não a internarem para tratamento fugirei dela, e de tudo o que a rodeia, a sete pés. 

Até amanhã, com novos e estimulantes assuntos no menu nacional.

Notícia aqui

 

terça-feira, janeiro 07, 2014

Do ciberbullying na idade madura



Se há coisa que não nos falta por cá é gente espirituosa.
As redes sociais são o laboratório liceal por excelência para os de espírito testarem a sua grandeza.
Podem postar qualquer parvoíce, ou brincadeira de gosto duvidoso, que logo uma centena de incondicionais sinaliza que gosta.

São coisas lá deles, mas há uma espirituoso mania que sempre me deixa “por cima das azinheiras” – a irresistível tentação de, jocosamente, julgar os outros pelo seu aspecto físico e, dentro dessa acanhada e púbere visão, ir insinuando que, se são assim feios, também serão, certamente, estúpidos e incapazes.

Assumo que não somos, de facto, um povo bonito nem refinado, e que olhar a maioria das nossas figuras públicas, sobretudo as da área política, não me proporciona nenhuma emoção estética, mas a sua falta de beleza não me agride.

O mesmo não posso dizer da falta de elegância e tino dos que, sendo já muito maduros, não desistem de praticar esta espécie de bullying.

quinta-feira, dezembro 19, 2013

A importância de se chamar Gato Fedorento









 
 
Espanta-me que, seis dias passados sobre uma porcaria dum programa humorístico, o país continue a discutir se o mesmo foi bom ou mau, por que razão não teve graça, ou será que teve mas poucos a viram, porque entrou o jornalista Rodrigues Guedes de Carvalho na farsa, mas terá sido uma farsa ou será tudo um mero golpe de marketing para o que virá a seguir, poderá um jornalista espirrar, tossir ou ter caspa e ainda assim continuar jornalista, poderá um jornalista do DN escrever sobre um seu colega da SIC pondo as coisas no seu lugar ou terá alguma coisa mais em vista, foi aquilo um sketch corajoso por se querer dar um banano no Paulo Portas e por chamar bandidos aos governantes ou, pelo contrário, sublimou os desejos reais de violência e ajudou à manutenção da paz social podre fazendo um frete ao governo?

Estas e outras questões, perguntas e conspirações continuam a ser discutidas nas redes sociais, tantos dias depois, como se se tratasse de algum acordão do Tribunal Constitucional, pr’aí, ou quiçá duma decisão irrevogável do do banano.

Uma pessoa quase se esquece que aquilo foi um programa de humor. Apenas.
Eu até acho que as redes sociais são, hoje em dia, o recreio dos adultos, mas, ó gente, há dias em que aquilo lá no Facebook já não me parece o pátio do recreio – parece-me mais o pátio dum manicómio.

quinta-feira, novembro 07, 2013

O estado da interpretação


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É bom avisar logo de entrada que detesto Nuno Crato e as suas políticas; acho-o até um muito perigoso bandido político, dos piores do governo.

Porém, um destes dias, o homem defendeu a austeridade do orçamento para 2014 e explicou, como se fossemos muito burros, que sem essa austeridade, para pagar a nossa enooooooooorme dívida, "teríamos de trabalhar mais de um ano sem comer, sem utilizar transportes, sem gastar absolutamente nada só para pagar a dívida “.

A partir daqui, o jornal i titulou: "portugueses precisam de trabalhar um ano sem comer para pagar a dívida”.

Que faz a populaça em fúria com tudo e com todos? Vai ler o artigo e tentar perceber aquilo que à primeira vista parece um disparate? Não. Toda a gente interpreta como dá jeito ao seu ódio, ou seja − o fdp quer que a gente deixe de comer durante um ano.

A culpa, neste caso, nem foi da iliteracia, embora ela se faça sentir com grande vivacidade nas redes sociais; como parece óbvio que ninguém iria sugerir que morrêssemos todos para pagar a dívida, foi a irracionalidade do ódio e a satisfação com a superficialidade da informação absorvida que conduziram a comentários do tipo:

- Vómito.
- Ele devia passar um ano sem comer.
- Sujeito abjecto, desprezível.
- Um escarro com poder!
- Asqueroso
- Uma aberração! A estupidez típica deste regime: trabalhar um ano sem comer...
- Este tipo consegue é comer um ano sem trabalhar. Malandragem.
- Puta que o pariu
- Ficamos sem comer para dar milhões a colégios privados

É só uma pequena amostra.

Já é grave para um país ter um ministro como Crato; mais grave ainda é ter um população que não busca a verdade, que não quer entender, que não se esforça por se informar, que deturpa tudo para o lado que lhe dá jeito, que, no fundo, aceita iludir-se a si mesma.

Mas o mais preocupante de tudo é que, não raro, estes comentários têm início em pessoas que, apesar de terem responsabilidades na sociedade portuguesa, parecem ter desistido da boa-fé num combate político em que já vale tudo.

Não, as crises nunca são oportunidades. Para nada.
E sempre trazem ao de cima o que de pior há em nós.
Posto isto, claro que a conversa do Crato é cretina.
 

terça-feira, agosto 27, 2013

Consumidos pelo ódio

Desde domingo que padeço duma persistente náusea.

Chegada a casa depois de um tão simples quanto excelente almoço em excelente companhia e em paisagem privilegiada, ligo o computador e tomo conhecimento de que António Borges morreu.

Nada de particular tinha a dizer na sua morte.

Era antes de mais, e sobretudo naquela hora, um homem como qualquer outro, isto é, marido, pai, avô e talvez ainda filho de alguém que, inevitavelmente estava sofrendo uma perda.

Para além disso, era um homem que, sobre sociedade e política pensava o oposto do que eu penso, dizia-o, e desse conjunto de pensamentos e palavras nascia uma figura que me era muito antipática.

Contudo, o poder de que alguma vez dispôs para nos fazer mal não lhe caiu do céu, nem foi usurpado, antes lhe foi outorgado por aqueles a quem nós próprios confiámos o poder.

A dita náusea, porém, nasceu e cresceu à medida que fui lendo o que se publicava nas redes sociais.

Cheguei a ler agradecimentos ao cancro, vi evocar o castigo divino, e vi também desferir violentos ataques sobre quem, não lamentando a morte do homem, ousou, porém, insurgir-se contra tanta intolerância e ódio.

Como é feio de ver este meu povo de esquerda que, impotente para sacudir as cangas que periodicamente lhe põem ao pescoço, se acoita no ódio e se  alivia  chafurdando num sórdido e generalizado rancor.

Um homem e um político que defende o que António Borges defendeu é, para mim, um homem desprezível, sem sombra de dúvida.

Mas, e daí? Temos mesmo de ser iguais a ele?

 

quarta-feira, maio 29, 2013

O incorruptível contra a corrupção

Paulo Morais é figura incontornável das redes sociais. Ele escreve e as pessoas partilham.

Não sei muito sobre este português, a não ser o que li aqui, mas parece-me que tomou a peito travar uma inquebrantável luta contra a corrupção.

Só tem um problema, para mim: é que essa luta parece ser travada contra a corrupção real, a putativa e a imaginada.
O seu artigo de ontem no Correio da Manhã é, como outros, todo um exercício prático sobre a teoria da conspiração, e um elencar de males que o destino nos reserva.
Contra o destino, como se sabe, nada podemos.

Ler sistematicamente Paulo Morais pode levar qualquer cidadão a:
- Cortar os pulsos.
- Tomar drogas duras tipo Valium ou Xanax, e outras cujo nome desconheço, por incapacidade de conciliar o sono.
- Sair de casa sempre armado porque nunca se sabe quando se vai encontrar um corrupto ou uma despesa inútil.

Porém, atenção, caros compatriotas: quem entrar por estes caminhos não verá, como eu tenciono ver, Paulo Morais chegar primeiro a secretário de estado, e, lá mais para a frente, a ministro, que ele ainda é novo e como se diz na minha terra, “faz-se”.

quarta-feira, abril 10, 2013

Dois em um

Sentada na minha cadeira, e diante do meu computador, posso observar claramente a existência de dois países num só, um pouco como o “dois em um” do champô e amaciador.

As redes sociais são uma janela aberta para a sociedade, ou, pelo menos, para uma parte dela, que já não é tão pequena assim.

De um lado, o que vejo é a minha faixa etária, acompanhada por alguns mais novos, completamente obcecada com a situação política, económica e social do país.

Do outro lado vejo os mais novos, acompanhados por alguns mais velhos, que continuam entregues quase exclusivamente aos seus interesses de sempre, sejam a música, a arte, o futebol, a saúde, a moda, enfim, a normalidade.

Para estes últimos, parece que nada de novo está acontecendo por aqui e a vida continua no seu percurso doce e previsível.

Ao contrário, para o primeiro grupo, a vida transformou-se no ovo da serpente onde diariamente incubam novas ameaças, medos, inseguranças e pérfidos desígnios políticos.

A Pátria está com dupla personalidade.

quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Pipocas há muitas




Nas redes sociais, e com a aproximação da manifestação de 2 de Março, começou a aparecer e a dar nas vistas uma boa dose de snobeira.

Pessoas que se julgam de esquerda, e inteligentes, e cultas, gozam com os textos de apoio à manifestação dizendo que são maus (uns são, outros não), e acham que andar por aí a cantarolar a Grândola é uma “possidonice”.

Eles acham que são de esquerda, mas eu acho que não são – na sua acidez e humor corrosivos mostram como detestam o povo, ou seja, os mais simples. Na sua falta de paciência ou tolerância para quem não tem os seus padrões de qualidade mostram que, no fundo, haver povo é uma chatice, desfeia o país.

São a versão intelectual da triste figura da Pipoca mais Doce.

terça-feira, novembro 13, 2012

Sintomas dum país em cacos

Portugal é um país à beira de um ataque de nervos, o que ficou muito bem provado com o “episódio” Jonet.

Nas redes sociais houve de tudo – os que carregaram o andor da santa até mais não poderem, os que se desdobraram a dizer que a santa não quis dizer o que disse, os que bramaram que abandonar o apoio ao Banco era criminoso, todos aproveitando para malhar na esquerda que, no fundo, odeiam, e imaginam toda igual e “formatada” como gostam de dizer.

Do outro lado, houve os que pediram a demissão do diabo (como se isso fosse possível, dado que Isabel Jonet dirige uma IPSS com os seus corpos sociais), houve quem usasse o vernáculo e o insulto soez, e até houve quem sentisse repugnância, imagine-se, pelo cabelo do diabo colado à cabeça.

Portugal está partido, desiludidos dos seus e dos de fora, sem esperança, sem sonhos e sem futuro. Tudo serve para atear a fogueira da raiva mal contida.
Portugal está à beira dum ataque de nervos.