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quarta-feira, março 16, 2011

Isto cheira mal como...

Cavaco Silva discursou ontem na homenagem aos combatentes do Ultramar (para mim, colónias) e disse coisas magníficas (para mim, terríficas), tais como:

“Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar».
“Para lá da memória, impõe-se o reconhecimento de todos os que, pela sua acção na defesa de Portugal, sofreram no corpo e na alma o preço do dever cumprido. São merecedores do nosso profundo respeito», sublinhou, saudando também «com especial apreço» os militares de etnia africana que de «forma valorosa» lutaram ao lado dos portugueses”. Notícia aqui
Quem assim fala, mostra, finalmente, o seu pensamento e a sua postura face ao passado recente do país. Já aqui escrevi sobre essa guerra e ficou claro que sobre ela penso exactamente o oposto do Presidente. Não sou a única, tenho a certeza que milhões de portugueses que viveram a guerra colonial pensam como eu e nunca entenderão que havia desprendimento e determinação nos jovens que eram obrigados a combater; nunca entenderemos que se tratava da defesa de Portugal ou de cumprir um dever.
Esse era o discurso justificativo de Salazar e Caetano e não o sentimento do povo português. Angola, Moçambique e Guiné não eram Portugal, eram territórios africanos cujos povos lutavam para se libertarem do país colonizador; por isso também não me parece que os autóctones que lutaram ao lado dos portugueses, e contra o povo a que pertenciam, possam merecer grande apreço.
Não critico que se homenageiem os combatentes, critico os fundamentos da guerra e esta maneira de olhar para ela.
O demagógico discurso da tomada de posse e o discurso de ontem mostram que Cavaco Silva, não jogando já a reeleição, vai agir de acordo com aquilo que verdadeiramente é: um homem da direita ressentida, reacionário, demagogo, passadista, em suma, tudo o que o país não precisa em 2011.
Com o discurso de ontem, mostra também que não pretende ser o presidente de todos os portugueses, já que parece não ter sensibilidade para compreender o melindre de certas afirmações sobre um assunto que ainda está demasiado fresco na memória de toda uma geração.