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terça-feira, fevereiro 04, 2014

Portugueses no mundo


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu já aqui escrevi sobre ele, mas o diabo do programa anda-me mesmo a irritar. Todas as manhãs, na Antena 1, uma tal Alice Vilaça conversa ao telefone com um português que está fora – “portugueses no mundo”, assim se chama a rubrica.

Nela, todos os entrevistados estão fora do país porque responderam a inopinadas oportunidades, todos estão felizes, todos acham a experiência muito positiva, todos têm saudades da família, do sol, do café, do bacalhau e tal.

Quase todos são formados, mestrados ou doutoradas, quase todos estão entre os vinte e muitos e os quarenta e poucos anos, todos são felizes, apreciados, bem remunerados e, com uma tal imagem construída, todos devem ser lindos de morrer, penso eu.

Entre os portugueses no mundo não há falhados, ou tipos simplesmente sem sorte, não há um só trolha ou ajudante de cozinha, ou alguém que não consegue adaptar-se, ou ainda alguém que deteste o chefe e os indígenas locais; muito menos há alguém que possa morrer às mãos de energúmenos xenófobos nos arredores de Londres por ter tido de dormir na rua.

É um programa feito com “emigras” de sucesso e, maioritariamente, por opção.
E não é sério, porque não vale branquear assim a realidade.

Todos sabemos que a realidade é, sobretudo, aquele português a quem perguntaram, no aeroporto e em dia de greve europeia dos controladores aéreos, se um atraso de 2 horas lhe fazia transtorno, ao que ele respondeu que não, que o que lhe fazia transtorno é ter de emigrar.

O programa dura há mais de dois anos e ataca-me cinco dias na semana. Ou seja, já ouvi pr’aí uns quinhentos a dizerem as mesmas coisas, mas verifiquei que a sua página no Facebook tem 3458 “gosto”.

Ainda bem que há quem goste. Talvez a Alice Vilaça não tenha de emigrar.
 

 

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

La vie en rose

Na Antena 1 da RDP, no espaço da manhã dantes ocupado por Pedro Rosa Mendes e seus companheiros, existe agora uma rubrica sobre portugueses no mundo.

Durante alguns minutos, a jornalista fala com alguém que está a viver e a trabalhar noutro país e eu ponho uns óculos cor-de-rosa.

São sempre jovens com boa formação que encontraram um trabalho que os satisfaz. Todos falam de segurança no trabalho, organização e saudades do sol. Enfim, a vida é bela e cheia de oportunidades no largo mundo ao nosso dispor. O programa satisfaz plenamente a ideia do primeiro-ministro de que os jovens devem abandonar a sua “zona de conforto” e emigrar.

Noto, porém, que os entrevistados, não estando infelizes, ao contrário, têm saudades do país e da família. Presumo que, se aqui encontrassem maneira segura de empregar o seu inegável talento, na sua grande maioria, gostariam de estar na sua “zona de conforto”.

Reparo também que, no programa, nunca ouvi entrevistar nenhum dos muitos licenciados portugueses que mais não encontram lá fora do que a possibilidade de vender copos a bêbados de país alheio; também nunca ouvi um jovem com o 12º ano que só conseguiu ser trolha, nem um dos mais velhos que se sente enganado e bastamente explorado na sua condição de emigrante.

Mas é bom. O senhor Primeiro-ministro e o Dr. Relvas certamente gostam disto e eu, durante uns minutos, vejo o mundo em tons de rosa clarinho.