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segunda-feira, novembro 07, 2011

Começo a ter medo de abrir o correio

Transcrevo parte do que o deputado António Filipe, do PCP, escreveu no seu mural do Facebook

Já vi que há quem use o meu mural para me insultar pelo facto de, por ser vice-presidente da Assembleia da República, dispor de uma viatura da marca BMW para deslocações em serviço. Referir-me-ei a esse assunto por uma vez e não voltarei a ele:

1.   Como vice-presidente da AR disponho de uma viatura oficial para deslocações nessa qualidade. Não me envergonho disso. Em deslocações oficiais, não vejo por que razão haveria de usar o meu carro e pagar a gasolina do meu bolso.

2.   Não levo o carro para casa e não o utilizo em deslocações particulares. É um BMW? Azar. Se fosse um míni, seria um míni. O carro já existia quando assumi funções e não mandei comprar nenhum. Se um dia se decidir que os vice-presidentes não devem dispor de carro oficial, tudo bem. Não me caem os parentes na lama.


António Filipe tem razão, e é assustador o número de e-mails que recebemos insultando todos os políticos, usando da demagogia mais rasteira, metendo tudo no mesmo saco, sem nenhum sentido crítico, sem sombra de pensamento, sequer.

A classe política tem-se posto a jeito, quer com o seu trabalho ou a falta dele, quer com as mordomias que bastas vezes a si própria atribuiu, mas alguma dignidade na representação do Estado também é desejável.
Para isso é necessário um BMW? Não, mas se existe não se deita fora. Da próxima vez é que se terá de comprar qualquer coisita mais em conta, mais conforme o país que somos, não é verdade?

É certo que todos estamos zangados com os políticos, mas fomos nós que os elegemos, eles são o nosso espelho enquanto sociedade, e na política, como em todas as profissões, há de tudo – honestos e desonestos, trabalhadores e preguiçoso, gente séria e gente sem escrúpulos.
Porém, não é raro que pessoas que deviam saber isto e ser socialmente informadas, reenviem, acefalamente, e-mails insultuosos, primários e sem qualquer laivo de discernimento.

Esta ira irracional contra tudo e contra todos, devia fazer soar rapidamente as campainhas na cabeça dos que prezam a democracia e sabem que esta não se exerce sem políticos. Por aqui, ao que parece, está tudo a perder a tramontana. E isso é preocupante, porque é perigoso.

quarta-feira, maio 04, 2011

Aquilo ontem foi esquisito, não foi?

A conferência de imprensa de José Sócrates ontem foi um bocadinho estranha: os jornalistas não podiam fazer perguntas, os fotógrafos não podiam fotografar e o Ministro das Finanças… não se podia mexer.

segunda-feira, abril 18, 2011

Misteriosa magia da cadeira

A magia da chamada “cadeira do poder” sempre foi, e continua a ser, para mim, um verdadeiro mistério.
Quem nela se senta não a quer largar nem a camartelo. Pode sofrer os maiores desaires, humilhações, intromissões, engolir sapos mas deixá-la…deus os livre.
Há o poder real, o pequeno poder e o hipotético poder, mas todos parecem ser irresistíveis.
Sócrates tem passado as passinhas do Algarve, é talvez o político português mais mal tratado no pós-25 de Abril, acusado de tudo e mais um par de botas, mas não larga a cadeira.
Passos Coelho, que parece ser um homem de grande visão política e que ainda não chegou ao poder já está a dizer mentiras demonstráveis (não foi avisado do PEC IV, afinal houve um telefonema, não, afinal houve mesmo uma reunião), sonha todas as noites com a cadeira e não lhe chega a hora de tomar assento.
Cavaco sentou-se nela e quis voltar a sentar-se, só mesmo para se sentar; até me faz lembrar o Grande Chefe Boi Sentado. Tomou assento e ficou sossegadito, como quem diz – briguem-se para aí à vontade que daqui ninguém me tira; ganhei a cadeira, era só o que eu queria.
Fernando Nobre lutou pela mesma cadeira assegurando que não queria nada com os partidos, só com os cidadãos. Perdeu essa cadeira mas, quando lhe acenaram com a cadeira central do hemiciclo de S. Bento disse logo que sim. Mais vale uma cadeira no traseiro que duas a voar. Nem conhece o programa pelo qual vai fazer campanha, ele só quer mesmo é a cadeira.
Basílio Horta, que chegou a ser líder do CDS, na eminência de perder o lugar de presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo vai ser candidato a deputado por Leiria, nas listas do PS, para não ficar sem cadeira.
Na demanda de cadeira similar, Ferro Rodrigues, político de esquerda que veio do MES para o PS, depois dum exílio dourado na OCDE em Paris, exílio que não podia durar o resto da sua vida, volta para ser cabeça de lista do PS por Lisboa. Pode dizer-se que esse é do PS mas, com mil diabos, não precisava de ser do PS de Sócrates. Mas então, e a cadeira?
Não saberão fazer mais nada? Se calhar até sabem mas, embora para mim continue um mistério insondável, está visto que a poção mágica da cadeira é mesmo muito poderosa.
Quase veneno, ou “substância ilícita” altamente viciante.

segunda-feira, março 28, 2011

Os políticos portugueses desprezam os portugueses

Depois de uma leitura mais atenta dos jornais no fim de semana sobre o turbilhão político da semana passada, só posso concluir que os nosso políticos, todos sem excepção, nos desprezam.
Sócrates andou durante meses a negociar com Bruxelas, ou Merkel, uma ajuda a Portugal em termos mais favoráveis e mais honrosos do que os que existiram para a Grécia e Irlanda. Estava à beira de o conseguir mas, durante o processo não se limitou a fazer como Mário Soares, que meteu o socialismo na gaveta; Sócrates meteu a democracia na gaveta e fechou-a à chave, não dando contas a ninguém do que andava a fazer.
Cavaco toma posse e faz um discurso de “sobressalto cívico” com implícitos e fortes ataques ao governo, fazendo, na prática, o papel de oposição.
Sócrates fica zangado e deita contas à vida sobre qual seria o momento mais vantajoso para si mesmo para abrir uma crise política. Decide então que o melhor é mandar o Teixeira dos Santos dar a boa notícia do PEC IV para desencadear o processo, sabendo muito bem que ia encurralar o PSD e hostilizar o PR.
Cavaco, patriota, não engole a afronta e decide não mexer um dedo para salvar o acordo de Bruxelas. O PSD, que nada tem de diferente para propor, como já se viu pelas declarações dos dias seguintes, e cujo líder parece ter a coluna vertebral dum caracol (palavras de Miguel Portas, que subscrevo) cai na esparrela, também não engole a afronta, até porque tem umas eleições para ganhar, e deita o governo abaixo. Sócrates parte para Bruxelas demissionários e os queridos mercados fazem a dança da Primavera e da fertilidade.
Cada um deles, Sócrates, PSD e Cavaco, pensou apenas em si próprio, borrifando-se para todos nós. Já nem falo dos partidos à esquerda do PS que, lamentavelmente, parecem ter optado por serem apenas do contra, não apresentando propostas exequíveis no sentido de defender os portugueses destes traficantes da política que, alternadamente, nos governam.
A pergunta é: que fazer? que fazer nas próximas eleições?
Há muito quem defenda o voto em branco; pessoalmente valorizo demais esse direito e dever para o poder usar numa tal situação. Além disso, não se pode convencer 6 ou 7 milhões a votar branco, sempre alguém votará por mim e, se tal, por absurdo, se conseguisse teríamos que perguntar – e depois, o que se segue?
Tenho a certeza que milhões de portugueses se sentem como eu e todos percebemos que este paradigma partidário não nos serve.
Está, portanto, criado o caldinho para o aparecimento de outro ou outros partidos. Poderia ser bom, mas temo que possa ser o contrário. Os portugueses gostam de homens providenciais e não foi por acaso que tivemos Salazar mais de 40 anos. Foi porque a grande massa dos portugueses não se incomodava muito com isso desde que pudesse levar a sua vidinha.
Com a falta de respeito que os partidos democráticos revelam por nós, não me admiraria que o povo achasse que um não-democratico servia muito melhor.
A política à portuguesa dá náuseas.

sexta-feira, março 25, 2011

O pior cego...


Mas ouçamos uma história (outra parábola?):
Um duro homem avança por uma rua
que termina numa floresta como antes na infância
avançava por uma floresta que terminava
numa rua.
Olha para todos os lados mas evita olhar para cima
pois alguém lhe dissera que os humanos
só participam nos acontecimentos
abaixo do nível dos olhos,
e esta expressão – abaixo do nível dos olhos –
torna-se tão forte como a velha expressão
 - abaixo, ou acima, do nível do mar.

Gonçalo M. Tavares
Uma Viagem à Índia
Canto I, 36
Ed. Caminho, 2010

sexta-feira, março 18, 2011

Será doença? Será feitio?

Em 36 de democracia, quem quis, aprendeu muito de política e políticos.
Fomos aprendendo que prometem mas não cumprem, conhecendo os tiques de cada um, discernindo as meias-verdades do discurso, as personalidades e carateres.
José Sócrates, porém, ultrapassa tudo e todos os que conheci, e pelas piores razões.
Já ouvimos tanta coisa e o seu contrário ao longo de 6 anos de governo que, eu pessoalmente, já não acredito em nada.
Fartou-se de dizer, uma vez, duas vezes, três vezes – estas são as medidas necessárias e suficientes para ultrapassarmos a crise, para, passado um mês ou dois, vir acrescentar mais medidas às medidas garantindo sempre o “agora é que é”.
Chegámos ao momento Pedro e o Lobo, ou seja, o lobo vem lá e ninguém acredita no Pedro.
Alguém pode acreditar que não foi negociar as novas medidas com a Frau Merkel?
Alguém acredita que está pronto para (ou pode ainda) negociá-las com a oposição?
Alguém acredita que não haverá mais PEC (cujo número já perdi?)
O nosso primeiro-ministro tem mentido tanto que eu já não acredito nunca no que ouço e isso deixa-me tão insegura, mas tão insegura, que começo a achar que o nosso sistema democrático está, ele próprio, inseguro, porque está nas mãos dum mentiroso compulsivo que, às vezes, até parece acreditar nas suas próprias mentiras.
Talvez tenha sido ingénua até agora mas, achar que um primeiro-ministro mente de cada vez que ele abre a boca, juro que nunca me tinha acontecido nos últimos 36 anos.
Isso faz mal à saúde, ao país e à vida democrática.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Quem não quer ser lobo...


Duas notícias da semana passada:

“O senhor Armando Vara entrou aí como qualquer utente e passou à frente de toda a gente. Entrou no gabinete da médica sem avisar e sem que a médica percebesse que não estava na sua vez. Foi uma situação de abuso absolutamente inconfundível”. Declarações da directora do centro de saúde de Alvalade, Manuela Peleteiro

O INEM assistia de emergência uma idosa com suspeitas de estar a sofrer um enfarte no interior sua casa, na Rua da Quintinha, enquanto a ambulância aguardava para a transportar ao hospital. Como é norma o veículo fica ligado a assinalar a urgência enquanto os técnicos do INEM socorrem a vítima.
Enquanto a idosa era assistida, um elemento da PSP, que faz a segurança do ministro Alberto Martins, ordenou que a ambulância fosse retirada do local para o carro do ministro, que mora perto, passar. A viatura ao serviço de Alberto Martins ia buscar o ministro a casa.

O caminho que a governação tomou nos últimos tempos deixou o país zangado, com um profundo sentimento de injustiça e uma enorme desesperança. Além disso, os portugueses já perceberam que o trabalho político é bastante sujo, ou melhor dizendo, que os políticos sujam bastante o seu trabalho.
Neste contexto, as pequenas tropelias, com as acima contadas, ajudam, e muito, a minar ainda mais o clima e a opinião que as pessoas, em geral, têm da classe.
Na internet, como na mercearia da esquina, o que se diz é cada vez mais demolidor e até já corre por aí um panfleto digital a pedir um milhão na avenida contra os políticos, indiscriminadamente.
Ora, sem políticos não há democracia, mas uma boa parte dos portugueses não entende isto, e até talvez ache que não é importante – nem a democracia nem os políticos. As pessoas estão sedentas de alguma demonstração de decência por parte de quem as governa e, na sua ausência, e com a vida cada vez mais difícil, aumentam a sua sanha contra os chamados “ricos e poderosos” entre os quais incluem os políticos.
Quem entende que os políticos são peças fundamentais da democracia não deve ficar calado nem deixar que o desespero e o ódio primário se apoderem da opinião pública, porque o clima que actualmente vigora é demasiado perigoso para o regime.
Mas, convenhamos, fica cada vez mais difícil defender, em abstrato, uma classe que, em concreto, faz tudo para ficar indefensável.