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segunda-feira, abril 23, 2012

Ser solidário ou ser caridoso

A campanha Desperdício Zero arrancou com estrondo e polémica, com hino e o alto patrocínio da Presidência da República.
O hino, não é apenas infeliz, como li por aí; ele traduz o sentir dum movimento de cariz assistencialista.

“Sei que andas a passar fome mesmo estando a trabalhar, o que eu não aproveito, a ti dava-te jeito….” Tralalá, tralalá, tudo muito sentido e condoído.

Será normal estar a passar fome mesmo estando a trabalhar? Será normal dar o que me sobra em vez de partilhar o que tenho? Será normal que o Tim escreva uma coisa destas? Será normal que gente como Jorge Palma se ponha a cantar isto com trejeitos de grande artista de cabeça oca?

Será normal que já ninguém perceba a diferença entre assistencialismo, caridade e solidariedade?

Dar de comer a quem tem fome é imperioso, mas podemos fazê-lo sem estardalhaço, sem palco, e sem perder de vista que as pessoas não precisam de caridade, precisam de ser respeitadas nos seus mais básicos direitos como, por exemplo, trabalhar e poderem sustentar-se com o seu trabalho. É nisso que acredito – numa sociedade que se empenhe na dignidade de todos.

Desde 2010, em Lisboa, o alemão Hunter Halder pegou numa bicicleta, pôs um chapéu na cabeça, arranjou um saco amarelo e começou a fazer exactamente o mesmo trabalho que Desperdício Zero, só que quase anonimamente. Está agora instalado nas traseiras da igreja de Nª Sr.ª de Fátima em Lisboa; chamou Re-food à sua organização e merece todo o meu respeito.

Para mim, ele é solidário; os do hino são caridosos.
Acredito que o futuro pode contar com os solidários; quanto aos caridosos, pertencem a um passado de que me lembro bem, mas de que não tenho saudades.

Se isso faz de mim um “triste traste” como diz Pedro Rolo Duarte, prefiro sê-lo a sentir-me um traste alegrete que aplaude e não (se) interroga.
É-lhe difícil perceber esta outra maneira de pensar, Pedro Rolo Duarte?

É que não se trata de negar o mérito da ideia; trata-se de entender o “espírito” com que a “coisa” ficou. Se não é capaz de o entender, então, acho normal que lhe fique difícil “distinguir a estrada da beira estrada”.
A si, mas não a mim, que sou de esquerda e rio-me muito.