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segunda-feira, outubro 27, 2014

Dormir com Poe












 
 
 
 
 
“Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser. Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos!”

Este é um pequeno excerto do conto “O Gato Preto” de Edgar Allan Poe que retirei daqui.

Lembrei-me dele, e doutros, quando no sábado li, na Revista do Expresso, uma entrevista com a filha mais velha de Paula Rego, Caroline Willing, em que ela afirma:

“A minha mãe lia-me livros de Edgar Allan Poe como histórias para dormir”.

Foi assim que, no meio duma inofensiva leitura de fim-de-semana, e subitamente, um frémito de horror e pasmo me percorreu o ser.

E interroguei-me:
 
Alguma vez te lembraste, Maria de Jesus, de pôr os putos a dormir com as histórias do velho Poe?
Nunca, nunquinha!
Porcaria de mãe que me saíste!

quinta-feira, setembro 01, 2011

A casa

Não me apetece falar da Líbia, nem das secretas, nem do Álvaro, nem do Pedro, nem do Gaspar, nem do comércio a fechar, nem do atestado de pobreza que é preciso ter para comprar o passe social, nem do furacão que o não foi, nem da alegria da UE por sermos tão atinados, só me apetece fazer um post muito politicamente incorrecto sobre a Casa das Histórias de Paula Rego em Cascais.
Hoje em dia, quando vamos a um museu construído de raiz, parece que o edifício está em competição com a arte que tem dentro. Todo ele é um “olhem para mim” e, em verdade se diga, geralmente vale mesmo a pena olhar, e olhar, e olhar, e deixarmo-nos envolver com a criativa e bela arquitectura de alguns dos nossos arquitectos. Estes, ainda aspiram ao belo; a arte há muito que se deixou disso. Por isso as romarias de visitantes fazem-se mais para ver o edifício do que o que ele contém.
A Casa das Histórias não é excepção. Quanto ao conteúdo, calhou-me ser preenchido por duas exposições de Paula Rego – “Oratório” e “O Corpo tem mais cotovelos” e nenhuma traz novidades de maior.
Sem deixar de lhe reconhecer a mestria da técnica e a força que caracteriza todo o seu trabalho, sempre acho que ele é produto duma mente povoada por agressivos fantasmas que nunca de lá sairão. Imaginação a rodos carregada de sexualidade mas sempre (ou cada vez mais) perversa. Tudo o que é mau e feio nos humanos, lá está.
Quando saí, e a doçura dum sol que nem parecia de Agosto me bateu na cara, respirei fundo e perguntei-me: mas afinal acabo de sair da Casa das Histórias ou da casa dos horrores?
É inconveniente dizer estas coisas, eu sei, mas mesmo assim, eu digo.
Je m’en fous