Mostrar mensagens com a etiqueta Paul Auster. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Paul Auster. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, julho 23, 2013

O Inverno da vida, e tal

Nos últimos anos, comparo os livros de Paul Auster com os filmes de Woody Allen – geralmente são uma grande pepineira; só de vez em quando sai um bom.

Acabei de ler “Diário de Inverno” de Paul Auster. Pepineira.

Auster escreveu este livro (porque precisa de pagar as contas, digo eu), porque está quase a completar 65 anos de vida, o que corresponde à idade oficial de entrada no Inverno da vida, diz ele.

A mania de comparar a vida com a sucessão das estações do ano é coisa que me chateia, e, de tão repetida, só denota uma grande falta de imaginação.

Eu, por exemplo, nasci no verão; na minha perspectiva, quando estiver com os pés p’rá cova deve ser Primavera, porque já passei pelo Verão, pelo Outono e pelo Inverno.

Este pessoal que insiste no Inverno da vida e tal, só pensa no esqueleto, parecendo esquecer-se de que sempre nos sentimos mais novos do que o que realmente somos.

Qual Inverno, qual carapuça!
Custa dar uma chance ao que a gente sente deixando as artroses fora da literatura?

Por mim, insisto em dizer que já não falta muito para entrar na Primavera da minha vida, com direito a descontos na CP e na Gulbenkian.

Cúmulo da sorte, não vou sozinha.
Por isso parabéns, hoje, para quem comigo faz, todos os dias, este caminho rumo à Primavera.
 
.
 

quarta-feira, maio 08, 2013

Ler













Considero-me uma razoável leitora, mas não sei quanto livros leio por ano.

Uns são grossos e outros finos, uns são fáceis e outros não, o que torna a “coisa” certamente muito variável; além do mais, a contabilidade é ramo do saber que não me entusiasma.

Uma coisa, porém, de há muito eu sabia – o meu conhecimento da literatura de Espanha é altamente deficitário.
Retirando o Vila-Matas, de quem até li duas ou três obras, o resto era um imenso buraco negro de ignorância.

Vai daí, pedi a uma amiga que me emprestasse três livros de escritores espanhóis. Ela escolheu (e, logo nessa escolha, dois terços eram catalães), e emprestou-me:
“O Prémio” de Manuel Vázquez Montalbán
“Beatus Ille” de Antonio Muñoz Molina
“A Sombra do Vento” de Carlos Ruiz Zafón

Ocorre-me dizer que pronto, está bem, tomei conhecimento.
Eles contam muitas histórias, e eu até gosto de histórias bem contadas mas aquilo, de facto, não é a minha praia.
A minha praia é, por exemplo, ao terceiro parágrafo dum livro, topar com isto:

“ A história faz-se de anseios em grande escala. Trata-se de um mero garoto com um desejo bem restrito, mas faz parte de uma multidão que não cessa de engrossar, milhares de indivíduos anónimos que emergem dos autocarros e dos comboios, pessoas em colunas estreitas que calcorreiam a ponte giratória sobre o rio e, embora não formem uma migração nem uma revolução, um vasto abalo de alma colectiva, trazem consigo o calor do corpo de uma grande cidade e os seus próprios devaneios e desesperos insignificantes, essa coisa invisível que assombra o dia – homens de chapéu de feltro e marujos de licença, o tropel caótico dos seus pensamentos, a caminho duma partida de basebol.”

Don DeLillo
Submundo
Sextante Editora

Cumprida uma daquelas obrigações que inventamos para nós mesmos sem saber porquê, congratulo-me por ali na prateleira, escolhidos por mim e à minha espera, estarem livros de Philip Roth, Paul Auster, Lawrence Durrell e E.L. Doctorow.

Benza-a Deus, que aquela é uma prateleira que carrega consigo a promessa de muitas horas felizes enquanto não acontece por aqui um vasto abalo de alma colectiva nas palavras de Don DeLillo.

 

 

 

 

quarta-feira, dezembro 12, 2012

O Caderno Vermelho

A propósito do post de ontem, e das coisas estranhas ou difíceis de explicar que nos acontecem, lembrei-me do livro “O Caderno Vermelho” de Paul Auster.

São pequenas histórias, todas verídicas, segundo o autor, que assentam, sobretudo, no acaso (tema que lhe é caro), narrando acontecimentos bizarros e coincidências quase do outro mundo. São histórias que em algum momento da vida podem acontecer a qualquer pessoa, que impressionam no momento, mas depois esquecemos. Contudo, o escritor não esqueceu, e com elas compôs um pequeno e delicioso livro.

Quando, nos dias que correm, entro numa livraria, tenho frequentemente a sensação de que o mundo da edição, por aqui, é consumidor regular de cogumelos alucinogénicos; outras vezes, penso que adoptaram o modelo das fábricas de enchidos – entra porco e, logo, logo, sai salsicha.
Tantos livros, tantos autores, tanto colorido, tanto design kitsch, tudo reduzido a picado daí a poucas semanas.

Não estranhei, por isso, não ter encontrado, nas buscas que fiz na internet, O Caderno Vermelho”, livro publicado há já um bom par de anos, mesmo sendo este um país de leitores fiéis de Paul Auster.
Apenas a livraria Bulhosa me diz: “Disponível entre 3 a 5 semanas (sujeito a confirmação) ”, pelo preço de 1,50 €.

Assim sendo, este é um daqueles livros que vale a pena procurar na biblioteca pública. É tão pequeno que podemos ficar lá a lê-lo, e sair daí por uma hora com sentimentos misturados de encantamento e espanto.
E ainda com um sorriso nos lábios.

segunda-feira, abril 04, 2011

Pontos nos ii

Absorvidos pela vidinha, pela crise, pelos juros, pelo vem/não vem do FMI , pelas soberbas tiradas do presidente Cavaco e ainda pela cultura do eu, do ego e etc. e tal, senhores da nossa magna individualidade, vale a pena ler isto, porque é também para nos pôr os pontos nos ii que serve a literatura.

Os seres humanos são tangíveis. São dotados de corpo, e, como esses corpos sentem dor e padecem de doenças e terminam na morte, a vida humana não sofreu nem a mais ínfima alteração desde os primórdios da Humanidade.
Os factos da vida são constantes. Uma pessoa vive e depois morre. Nasce do corpo duma mulher, e, se conseguir sobreviver ao nascimento, a mãe terá de a alimentar e cuidar dela a fim de assegurar a sua sobrevivência, e tudo o que acontece a uma pessoa desde o momento do seu nascimento até ao momento da sua morte, todas as emoções que vão crescendo dentro dela, todas as explosões de raiva, todas as vagas de desejo, todos os acessos de choro, todas as rajadas de riso, tudo o que essa pessoa – seja ela um homem das cavernas ou um astronauta, viva ela no deserto de Gobi ou no Círculo Polar Ártico – alguma vez sentirá ao longo da sua vida já foi também sentido por todas as outras pessoas que vieram antes dela.

Palavras de Bing Nathan, personagem de Paul Auster em
Sunset Park (pag. 58 e 59)
Ed.  ASA, 2010