Já tínhamos percebido, estarrecidos, que o Papa também manda
aqui no protetorado, mas, por mim, apesar de escandalizada, achei que aquilo
era mais um assinar de cruz do que outra coisa. Puro engano.
Sua Santidade acha que o feriado de 15 de Agosto, que
costumamos dedicar ao deus Sol, feiras, festarolas e arraiais, é mais
importante que o de 1 de Novembro e, por isso, talvez se faça a troca.
Sua Santidade lá sabe aquilo que é melhor para a nossa alma.
Assim à primeira vista, eu diria que faz bem à alma de
milhares de portugueses irem ao cemitério (no dia 1 de Novembro, por ser
feriado, e não no dia 2 como marca o calendário) com as suas flores, vistosas
ou campestres, aos molhos ou solitárias, modo de dizer aos seus mortos que
ainda não foram esquecidos.
A Igreja portuguesa deve pensar como eu, mas Sua Santidade,
que não é de cá e só nos visitou como um rei, com grande estilo e recursos, não
sabe nem quer saber nada desta gente humilde que homenageia mortos.
Vai dai, se bem calhar, vai-se o dia que lhes dedicamos e
fica o da tal Assunção que poucos sabem quem é. Por mim, não conheço essa nem
nenhuma outra com o mesmo nome.
Apetece dizer - valham-nos Todos os Santos, mas parece que
por agora, para os portugueses, nenhum está de serviço ou com disposição.