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terça-feira, fevereiro 15, 2011

Palavras perdidas


O telefone toca
 - Estou?!
Uma voz masculina diz:
 - Estou a falar da empresa tal, que está a fazer um estudo de mercado sobre transportes para a União Europeia, e queria saber se andou de comboio no último ano.
 - Como?
Ele repete.
 - Quantas perguntas vai ainda fazer?
 - Vou perguntar sobre transportes, estações e seu uso. Aí mais ou menos meia dúzia. Queria saber se andou de comboio no último ano.
 - Como não me perguntou se me importo ou não de responder, se tenho tempo ou não, se tenho vontade ou não, a resposta é: não respondo e sugiro que ganhe maneiras. Boa tarde.
Fim da comunicação
Isto é o pão nosso de cada dia. Não acontece sempre, é certo, há empresas que já investiram muito na formação de quem nos liga, mas acontece demasiadas vezes.
Palavras como obrigado, com licença, se faz favor, não se importa, desculpe e até bom dia, caíram em desuso.
São coisas básicas dum convívio social civilizado mas, curiosamente, parece que estamos a retroceder em termos civilizacionais.
E não me venham dizer que a culpa é do dono do call centre que não investiu na formação, o que até pode ser verdade, mas esta formação deveria vir de casa e do berço, devia ter tido continuação na escola, portanto, devia estar adquirida há muitos anos.
Quando oiço dizer que os jovens só encontram trabalho no call centre, ao desligar o telefone eu penso, com pena, que, para alguns, até isso é demais. A culpa não será deles, concordo. Ninguém nasce ensinado; a culpa é dos pais e da escola que deixaram de lado as regras básicas da convivialidade.
Mais grave é verificar que adultos de mais de 50 anos, que não foram assim educados, resolveram actuar de modo semelhante. Responder a um e-mail ou a um telefonema que não seja do seu exclusivo interesse, é coisa que está fora de questão. Dar alguma satisfação a outro pelos seus actos, ou lembrar que alguém colaborou com eles, idem.
Não raro, são pessoas que se acham acima de tudo o que os rodeia, tudo criticam e de tudo desdenham. Pior ainda, às vezes são eles próprios formadores, ou, melhor dizendo, contactam com jovens a quem devem transmitir saberes vários, na sala de aula ou nos corredores da escola. 
É óbvio que a vida não volta para trás e que nunca recuperaremos o que se perdeu, mas é pena, porque são pequenos nadas que tornavam a vida bem mais agradável e confiável, sem gastar um tostão e sem perder um pingo de modernidade.